sexta-feira, 2 de maio de 2014

Mundos Possíveis

Gostaríamos de abordar alguns conceitos da filosofia de Leibniz esquematicamente, referentes a criação do mundo e a liberdade humana.

Para Leibniz, no entendimento de Deus existem muitos mundos possíveis, mas Ele escolhe o melhor dentre todos. Sendo assim, nosso mundo é contingente porque "poderia" ser outro (se Deus quisesse), mas é esse por uma escolha moral de Deus. Por trás dessa escolha há uma liberdade que não é arbitrária, mas calculada racionalmente e baseada na vontade de Deus.

Dentro do nosso mundo criado existem leis que podem ser resumidas em: leis subalternas e leis universalíssimas, mas também existe a memória humana. De novo, essas leis são contingentes porque poderiam estar em outros mundos possíveis, mas estão nesse porque Deus é bom e esse é o melhor dos mundos possíveis.

A memória é uma faculdade humana que "automatiza" certas leis naturais, a partir dela não precisamos realizar cálculos. Por exemplo, sabemos que o sol nasce de manhã e se põe de tarde todos os dias.

As leis subalternas são as leis naturais, da natureza, da ciência, da física, da mecânica. Podem ser calculadas por nós, deduzidas pelo nosso entendimento humano. Enfim, o que podemos explicar recorrendo a fórmulas. Por exemplo, que a densidade é o quociente entre massa e volume.

As leis universalíssimas pertencem à ordem das regras de Deus e nelas estão contidos os milagres e nossas ações livres. Os milagres estão na ordem das leis de Deus e não temos conhecimento suficiente para entendê-los. Da mesma forma que as ações livres dos homens, que são imprevisíveis em cada situação. Aqui Leibniz não se utiliza de nenhuma moral normativa que poderia caracterizar ou "indicar" quais seriam ou deveriam ser nossas escolhas e ações (deixemos isso para Kant).

A partir desse esquema simplificado, encerraremos com duas reflexões acerca das nossas ações livres. Uma que se relaciona com nossa liberdade humana e outra com a natureza das nossas ações. Se nossas ações livres estão dentro das leis universalíssimas, elas estão no entendimento de Deus e podemos compreender melhor o significado de nossa liberdade: uma que remete a Deus, que está nele, mas também que se serve de nossa vontade.

Seguindo nesse caminho, podemos dar um segundo passo: se esse mundo é contingente, nossas ações livres valem aqui. Mas como elas seriam em outro mundo? Podemos pensar em uma ontologia da ação livre. Em outro mundo possível, o que poderia mudar na nossa ação livre? Nada? Ela teria o mesmo sentido de ser? Seria uma ação livre de escolha dependente da vontade ou poderia haver outra ordem de precedência? E mais, poderia haver outro tipo de propriedade ou predicado que desconhecemos nesse mundo melhor possível e que poderia nos ser atribuído em algum outro?

Nos outros mundos possíveis a ação livre estaria totalmente com sua causa em nós e influenciada por nossos predicados ou essa autonomia poderia ser relativizada? São questões que podem nos ajudar a compreender melhor a filosofia da criação leibniziana.

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