Busca saber se o aquecimento
global é de origem humana[i]
Bruno Latour trata da “disputa” entre
climatologistas e climatocéticos a respeito da “paternidade” do aquecimento
global. Há aí uma questão moral de fundo, pois, se “comprovada” a
responsabilidade humana no aquecimento global, isso nos tornaria culpados pela
catástrofe global, o que, se por um lado nos envergonharia, por outro nos
imporia a necessidade da busca de ações no sentido de uma mudança radical de
vida[ii].
Além da questão moral, há obviamente a questão
capitalista-político-financeira, já que partiria do lobby de grandes grupos
econômicos o financiamento das campanhas climatocéticas, isto é, aqueles que
tratam o aquecimento global como uma questão independente de nós e que, oxalá,
já estivesse superada.
Entretanto, Latour argumenta que há uma
nova era geológica criada pelo ser humano, um novo ponto de inflexão. Ou seja,
a nossa ação teria causado abalos em toda a estrutura terrestre, pela
contribuição com o efeito estufa através da difusão de dióxido de carbono, CO2.
Mas é justamente esse ponto que as grandes empresas desejam esconder, advogando
contra o que apresentam os cientistas.
Diante disso, introduzimos a terceira
questão que apreendemos em uma primeira lida do texto de Latour: a questão da
certeza científica, quer dizer, o problema epistemológico. Dado que os
climatocéticos dizem que não se pode comprovar as mazelas naturais a partir da
ação humana, eles transferem toda a responsabilização da certeza dos eventos
para os cientistas. Ora, é aí que entra o dogmatismo científico que deveria
trazer essa certeza inabalável sob pena de culpa, em caso contrário.
Mas é justamente sobre esse ponto que Latour
se opõe: não se trata de uma seita do aquecimento, de um grupo liderado
para imprimir essa condição ao ser humano. A valer, é a estratégia
climatocética que pretende trazer à tona essa caracterização da ciência como
impositora da verdade e que não passa de uma armadilha: se os cientistas negam tal
condição, ficam à mercê de um debate muitas vezes infrutífero, se aceitam, se
auto intitulam dogmáticos.
O que parece ser a saída para essa
encruzilhada é trabalhar com os fatos e os dados que mostram um planeta cada
vez mais dilacerado. Parece que a saída será apontada por Willian James, pelo
seu pragmatismo, mas isso são cenas dos próximos capítulos. Por hora ficaremos por aqui, mas esperando voltar ao assunto em breve.
[i] Breve comentário sobre a Primeira
Conferência de Bruno Latour: Sobre a instabilidade da (noção) de natureza.
Em LATOUR, B. Diante de Gaia: oito conferências sobre a natureza no
Antropoceno. São Paulo / Rio de Janeiro: Ubu Editora / Ateliê de Humanidades
Editorial, 2020.
[ii] Mas, conforme Latour ressalta,
isso já foi refutado por Bush: “The American way of life is not negotiable” (nota
43, p. 52).
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