Feenberg mostra que há subdeterminação no
desenvolvimento tecnológico[i]
Feenberg
entende o desenvolvimento tecnológico como espaço de disputa política a partir
da formulação de uma teoria crítica da tecnologia influenciada pela Escola de
Frankfurt, entre outros, tomando a tecnologia não como instrumental, mas a
partir de valores éticos e políticos.
Sociologia
da Tecnologia. Há subdeterminação no desenvolvimento
tecnológico[ii],
ou seja, há várias soluções, por exemplo escolha entre agroecologia e
agronegócio, etc. Como as soluções passam pelo tipo de realidade ou ordenamento
social que criam, as decisões não se limitam aos elementos instrumentais e
cognitivos, posto que trazem consequências e, assim, “tecnologia e sociedade se
conformam mutuamente constituindo, na verdade, um ordenamento sociotécnico uno”.
Teoria
da dupla instrumentalização. Se passa que, para Feenberg, há um
processo de redução de tudo a suprimentos e, depois, uma contextualização para
a inserção no mundo humano, composto pelos quatros estágios que se seguem.
Descontextualização
e sistematização. Descontextualizar é isolar uma
matéria-prima tornando-a útil para o desenvolvimento técnico, mas que possa ser
sistematizada dentro do sentido humano, ex.: madeira para construção ou
o trabalhador que se descontextualiza do papel de pai para sistematizar o papel
de funcionário.
Reducionismo
e mediação. Reduz-se algo da matéria-prima para ser usado, por
exemplo, madeira de acabamento e não para celulose, mas que deve ser mediada
por um tratamento estético. Retira-se do ambiente original para se inserir em
um mundo social específico.
Autonomização
e identidade. A pessoa que gera a ação técnica se
autonomiza no efeito gerado, porém vai sendo identificada com aquilo em um
processo de interdependência que necessita de um limite (ou não, observado por
cada um).
Posicionamento
e iniciativa. Como a ação técnica tende ao controle,
ela cria uma hierarquia: posicionamento de quem manda e quem obedece, mas que
pode deixar brechas para a subversão, essa a iniciativa. Isto é, o aumento de um
reduz o outro e vice-versa. O capitalista indiferente perde humanidade e fica
com o comportamento formatado.
Racionalidade
sociotécnica e democratização da tecnologia. Portanto, a
racionalidade não é instrumental e, por isso, o desenvolvimento da tecnologia
deve ser disputado democraticamente. Porém, são os códigos técnicos que imperam
na construção de artefatos e soluções e que normatizam o trabalho técnico,
muitas vezes ao preço da exploração humana e custando vidas, como nos mostra a história
do desenvolvimento técnico.
Então,
a democratização tecnológica deve ser pautada pela subversão do uso, ou
seja, trata-se de operar a tecnologia de forma diferente do projetado, regulação
do desenvolvimento, submetendo regulamentações a partir de controvérsias técnicas,
e associação com os técnicos, incorporando valores dos usuários[iii].
A
democratização só se dá com luta e, além de sindicatos e movimentos sociais,
Feenberg traz a “rede de interesses” que se articulam entre pessoas com causas
comuns durante algum tempo contra condições não aceitáveis, para transformar um
aspecto específico da realidade sociotécnica (ex.: protesto contra uso de animais
em experimentos).
Contudo,
muitas iniciativas são cooptadas pela tecnocracia capitalista que deverá ser
derrubada para a implementação do socialismo democrático. Mas, é de caráter sociotécnico
o desenvolvimento tecnológico, conforme esse texto nos mostra, e dois fatores usados
pela Engenharia Popular no Brasil, a formação de consciência crítica e o desenvolvimento de metodologias contra hegemônicas são exemplos de caminhos para a democratização
tecnológica.
[i] Filosofia da Tecnologia. Seus
autores e seus problemas. Organização de Jelson Oliveira e prefácio de Ivan
Domingues, resultado da iniciativa do GT de Filosofia da Tecnologia da ANPOF.
Caxias do Sul, RS: Educs, 2020. Conforme capítulo 8, O desenvolvimento
tecnológico é uma arena política – Andrew Feenberg, por Cristiano Cordeiro
Cruz.
[ii] Segundo Cruz, como já mostraram Pinch
e Bijker e Winner.
[iii] Cruz traz como exemplo a Engenharia
Popular Brasileira que será abordada ao final.
Nenhum comentário:
Postar um comentário