Na luta pela hegemonia do planeta contra o homem, os vírus também podem nos beneficiar[i]
Rodrigues
e Fernandes abordam técnicas para a gestação de fetos por máquinas que, apesar de
ainda em evolução, estão sujeitas a questões éticas. Trata-se da ectogênese,
a “gênese fora do ventre materno”, baseada em uma tecnologia útero-máquina. Há
uma área celular inerente ao embrião capaz de ser usada como uma placenta
primitiva com suas inúmeras funções.
Os
autores defendem a posição de Canguilhem de equiparação organismo-máquina,
iniciada com Descartes, e um modelo biológico que permita compreender os
padrões evolutivos do ser humano. Especificamente, como a máquina se estabelece
independentemente dos processos biológicos evolutivos naturais e o papel
do retrovírus na evolução biológica de placenta.
Retrovírus
na evolução biológica. Eles ressaltam que os vírus competem com
o homem pelo domínio do planeta, com capacidades de plasticidade genética para
evoluir em novas direções e interação genética e metabólica com as células
infectadas.
Sua
ação é intracelular, ele carrega seu genoma viral para dentro da célula hospedeira
e, a partir do momento em que o homem deixou de ser nômade, os vírus passaram a
ser transmitidos e mantidos nas populações.
As
doenças virais datam das civilizações egípcias e greco-romanas; os retrovírus[ii]
surgem como codificadores de moléculas de DNA. Aí há os retrovírus endógenos presentes
no genoma de todos os vertebrados e que coevoluem com seus hospedeiros por milhões
de anos, atuando com uma função vital no desenvolvimento da placenta.
Retrovírus
e útero artificial. A técnica de PMA (Procriação Medicamente
Assistida) possibilita diminuição do tempo de gestação intrauterina em
incubadoras e busca reduzir sequelas aos prematuros. Mas é a placenta, como
interface materno-fetal, que ainda não foi reproduzida no útero artificial em condições
adequadas. Nesse sentido, a participação do retrovírus é essencial na evolução biológica da
placenta, levando-se em conta que evoluem mais rapidamente e em escala de tempo
menores, tratando-se de uma técnica de vida.
Georges Canguilhem e a vida como experiência maquínica. Então, através da visão de Canguilhem de que a técnica vai além do intelecto humano, sendo um fenômeno biológico universal, pode-se mostrar que o homem está em continuidade com a vida por meio da técnica. Mais ainda, que a vida não é indiferente quando um vírus atua beneficamente no organismo. As técnicas ocorrem por ocasiões que se dão na própria natureza e a vida se move pelo empirismo.
[i] Filosofia da Tecnologia. Seus
autores e seus problemas. Organização de Jelson Oliveira e prefácio de Ivan
Domingues, resultado da iniciativa do GT de Filosofia da Tecnologia da ANPOF.
Caxias do Sul, RS: Educs, 2020. Conforme capítulo 5, Georges Canguilhem – A
técnica entre o útero artificial e a influência virótica do retrovírus, por
Marco Aurélio Martins Rodrigues e Maurício Fernandes.
[ii] Conforme https://www.infoescola.com/biologia/retrovirus,
em 01/05/2021, os vírus são parasitas intracelulares obrigatórios, ou
seja, eles precisam utilizar a maquinaria da célula hospedeira para sua
replicação. Eles possuem um único tipo de material genético DNA ou RNA e
isso os diferencia em Adenovírus, quando possuem o DNA, ou Retrovírus quando
possuem RNA.
Os retrovírus foram os primeiros vírus a serem estudados em 1904, quando pesquisadores (estavam) procurando por bactérias como agentes infecciosos para leucemia em galinhas (...). Os retrovírus são um grupo de vírus de RNA que se replicam para produzir DNA a partir do RNA, usando uma enzima denominada transcriptase reversa. O DNA produzido é então incorporado ao genoma do hospedeiro.(...)
Os retrovírus, assim como outros vírus, possuem a característica de produzir infecções latentes e persistentes, caracterizadas por longos períodos de incubação e crescimento lento das quantidades de vírus nas células infectadas, isso permite que eles permaneçam assintomáticos por um longo período até que a doença associada comece a apresentar os sintomas.
Conforme Vírus - Estrutura e ciclos virais, acessado em 01/05/2021 no link https://educacao.uol.com.br/disciplinas/biologia/virus-estrutura-e-ciclos-virais.htm, um exemplo bastante conhecido de retrovírus é o HIV, causador da AIDS, que ataca os linfócitos T auxiliadores, células de nosso sistema imunológico. O DNA, produzido a partir do RNA viral, penetra no núcleo do linfócito e integra-se a um dos cromossomos (provírus); e, dessa forma, comanda a fabricação de novas moléculas de RNA viral e da enzima transcriptase reversa - e, portanto, a fabricação das proteínas dos capsídios e a origem de novos vírus. Os novos vírus formados são expelidos das células e podem infectar outras.
Embora, em geral, os vírus sejam lembrados por serem causadores de doenças, é bom saber que eles têm sido usados em muitas das pesquisas em Biologia Molecular e Engenharia Genética. É o caso, por exemplo, de certos bacteriófagos, usados para introduzir em bactérias determinados genes para a produção, pelas bactérias recombinantes, de substâncias de interesse médico ou econômico.
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