Trata
de nossa capacidade de projetar, que é social, biológica e material [i]
Para Vieira, projeto não é só um conceito metafísico
existencialista da constituição de si mesmo, mas o trabalho de transformação da
realidade material visando um novo ser[ii]. Estar engendrado no
plano do pensamento nos distingue dos animais irracionais pelas capacidades do
sistema nervoso superior, seja por ideias comunicadas pela linguagem, seja na
abstração que fazemos dos corpos com o projeto de modificá-los.
Nossa ação sobre a natureza nos diferencia pelo
projetar que, mentalmente, percebe conexões entre as coisas que configuram um
corpo ou artefato a ser fabricado de acordo com esse projeto. É o ato de
intencional de criar o inexistente e povoar a realidade com novos produtos.
O animal irracional modifica-se para se adaptar ao
mundo, já o ser humano, conscientemente e ativamente, transforma o mundo pela
sua capacidade que evoluiu biologicamente. De fato, é um projeto vital que o
homem leva à prática pela sua ação.
A análise filosófica de nossa capacidade de criação
deve, segundo Vieira, partir de fundamentos biológicos e do exercício social. O
projeto não é uma concepção subjetiva como movimento interior do espírito, mas
objetivamente o homem se da um novo modo de ser.
Reiteradamente, Vieira critica aqui uma análise
existencial e demonstra o salto qualitativo em nossa evolução, que nos agrega
tais capacidades de projetar e, daí, já se dá o caráter técnico de toda a ação
humana, visto que ligado a uma finalidade que o homem se propõe a cumprir. Isto
é, supera-se um comportamento instintivo visando melhores maneiras de prover as
necessidades de por meio do projeto. E o cérebro se desenvolve na tentativa de
resolver a contradição entre o ser vivo e a natureza.
[i] VIEIRA PINTO, Álvaro. O
Conceito de Tecnologia. Rio de Janeiro: Contraponto, 2005. A faculdade
de projetar. P. 54 e seguintes.
[ii] Lembremos de Sartre, intelectual que tratou teoricamente o conceito de projeto como nossa condição universal de existência, mas que também foi um homem engajado.
Sem dúvida trata-se de uma visão otimista da tecnologia, porém levando em conta as bases materiais e o historicismo.
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