quarta-feira, 19 de maio de 2021

Apropriação

O nosso erro é o que nos diferencia, a saber, nossa espécie. Nossa maior virtude é o nosso maior erro porque, sendo racionais, nós racionalizamos tudo e aí planejamos a nossa existência. Entretanto, “racionalizar tudo” é fazer um suco de resultados, digo, espremer tudo o que é possível para que se chegue a uma produção.

Falamos disso reiteradas vezes e, devido a isso, nos tornamos chatos. Mas é impossível dissociar, atualmente, qualquer ação de algo que não seja produção. A partir do momento em que nossa ação dependa de insumos naturais e, também, nossa existência, a extração dos mesmos e seu provável esgotamento não entram exatamente nas contas.

É isso e não é por isso que somos menos “humanos”. Ser humano é só ser um bicho mais escroto. Aquela barata, noves fora umas antenas e um barrigão, é ser que vive. Vivência sem pensar é vivência. Vivência pensando é subtração. Porque um ser irracional vive para o momento e nós, seres racionais, vivemos sempre subtraindo algo de alguém, qual seja, planejando.

Contudo, não chegaríamos até aqui sem essa índole. De posse da racionalidade erguemos um império: já fomos à lua, já há robôs em Marte. Estamos engatinhando. É tão promissor... É tão... Então, é sempre ir além, é ciência. É uma prova do que somos, de nosso potencial. Um potencial exatamente apropriador.

E nem tudo é negativo. A curiosidade parece ser inata a qualquer coisa que se mova, porque, movendo-se vai daqui para lá, de lá para cá, fuça, tenta. Então nós vamos seguindo procurando algo, e não só procurando per se, mas procurando e catalogando, planejando e procurando, procurando e produzindo. E, nos apropriando.

 

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