sábado, 15 de maio de 2021

Para uma educação técnica, que compreenda a evolução do objeto

De como o objeto técnico evolui e ganha forma tal como um objeto natural [i]

Simondon parte de uma divergência entre a cultura, que ignora as máquinas e se aliena, e o mundo tecnológico que aí vai a um tecnicismo imoderado. Ele caracteriza a oposição entre homem e máquina como consentimento e ignorância. Então, a filosofia deve tentar compreender a índole dos objetos técnicos e ele prega um ensino de iniciação à técnica que forme pessoas capazes de entender a natureza das máquinas.

O autor enumera três níveis no mundo técnico: 1.) elementar, otimismo do século XVIII quando o avanço não ameaça hábitos tradicionais; 2.) indivíduos (máquinas do século XIX), era da termodinâmica que mistura exaltação e temores; 3.) era da informação (século XX) que regula e estabiliza o mundo.

Objeto Técnico

Simondon aposta no estudo da gênese do ser técnico, associado à cultura técnica, em oposição ao estudo estático do saber técnico que capta a atualidade. O objeto técnico evolui do abstrato ao concreto, com partes soltas que se sintetizam, por exemplo, o motor a combustão que tem no motor atual um todo interligado.

Quando abstrato, o objeto apresenta problemas de adaptação entre as partes que, progredindo, vão se aperfeiçoando para se tornar um objeto coerente que já “não mais está em luta consigo mesmo”.

Os objetos técnicos evoluem por causas, amiúde econômicas e sociais, mas principalmente técnicas ou quando avanços em um objeto (avião) interferem em outro (automóvel) e, às vezes, passando por intervalos até que surja nova matéria-prima, por exemplo.

Se o objeto técnico é produzido artesanalmente e aí instável, quando concreto se sujeita à industrialização, quando sua produção já está associada ao conhecimento científico. Embora se conserve uma essência técnica nessa evolução: combustão interna – motor a gás – motor a diesel.

O objeto abstrato, por exigir intervenções humanas, é considerado artificial para Simondon, ao passo que o objeto concreto é evoluído e se aproxima do modo de existência dos objetos naturais[ii]. A artificialidade, para ele, não é uma rivalidade com a natureza, mas diz respeito à independência do objeto, como quando sai do laboratório para a fábrica. É a cultura técnica que mostra o esquema de funcionamento dos objetos.

Evolução da realidade técnica

Os objetos técnicos se direcionam por certa finalidade que deve se adaptar ao meio técnico-geográfico em que se inserem. Ocorre ocasionalmente a criação de um meio para esse objeto, que não é a humanização da natureza, mas uma naturalização do homem que inventa esse meio antecipadamente pela sua imaginação criadora.

A evolução técnica é análoga a de um ser vivo, mas por uma tecnicidade que vai além de forma e matéria e capacidade de uso. Ela é a essência do objeto, a concretização de seu esquema funcional. No artesão, a tecnicidade está no homem e recentemente passa para a máquina que faz com que o homem passe de indivíduo técnico para servente de máquinas.

Os modos de relação do homem com o objeto técnico

Simondon vincula o homem à técnica, por um lado, no que ele chama de estatuto de minoridade, do aprendiz que se torna artesão com saber técnico implícito e, por outro, na vida adulta livre, o homem (engenheiro) já tem consciência científica. Cindidas, na primeira o homem está integrado à natureza em sociedades fechadas (commodities). Na segunda, se guia pelo Enciclopedismo e o conhecimento racional universal. Para nosso autor, deveria haver uma simbiose entre elas, ou seja, se tornar adulto progressivamente, mas com uma formação universal.

Progresso, cultura e filosofia

Mais do que valorar a tecnologia, Simondon trata do progresso humano, entre aperfeiçoamento (p.ex., no século XVII) de utensílios e angústia (p.ex., no século XIX) frente às máquinas que poderiam nos substituir. Isso porque o homem se aliena por não entender a relação da máquina com o ser humano.

Esse problema só pode ser superado por uma cultura tecnológica na qual o homem se familiariza com os esquemas de funcionamento das máquinas. Como a relação humana com a natureza se dá pela tecnicidade então não basta usar os objetos, é preciso compreendê-los como “portadores de informação”, sua história, como resolveram problemas e como o homem foi estabelecendo uma relação prática com o mundo.



[i] Conforme Cupani, Alberto. Filosofia da tecnologia: um convite. 3. ed. - Florianópolis: Editora da UFSC, 2016. Capítulo 2: Estudos Clássicos: Gilberto Simondon.

[ii] Embora o ser vivo seja concreto ab initio e o objeto técnico nunca se complete.

Um comentário:

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