quarta-feira, 7 de maio de 2025

O fim das certezas - prólogo

Passa por aspectos que pedem por uma nova racionalidade[i]

1. Dilema do determinismo. Prigogine inicia o prólogo citando o dilema do determinismo, termo cunhado por Willian James, que exprime a tensão no senso comum, ilustrada por Popper, entre uma série causal e a escolha livre. São questões que vemos bastante nesse espaço e falamos na última reflexão[ii]. Porém ele enfatiza a questão do tempo, que sentimos em nossa existência e que foi introduzido na física por Galileu e utilizada na dinâmica newtoniana e que depois Einstein afirmou ser uma ilusão.

2. Paradoxo do tempo. Esse é o ponto crucial para Prigogine, não há flecha do tempo na descrição fundamental da natureza, para muitos físicos, embora em outras áreas como biologia e ciências humanas, passado e futuro desempenhem papéis diferentes. Então, transportando o dilema do determinismo para o campo da ciência física, surge o paradoxo do tempo, que é o tratamento por ela de uma simetria atemporal.

3. Ruptura. De acordo com Prigogine, o paradoxo do tempo foi identificado por Ludwig Boltzmann[iii], no século XIX, ao propor ao modo darwiniano o tratamento dos fenômenos físicos em termos evolutivos e, assim, distinguir entre passado e futuro. Ele ressalta que a flecha do tempo era uma ameaça para aquela proposta newtoniana “ideal, objetiva e completa” e a nova física quântica, que a incorpora, também não deveria destruir o edifício construído sobre a física clássica.

4. Desenvolvimento da física. Nesse campo de disputa, autores buscam relegar a flecha do tempo à descrição humana da natureza, campo fenomenológico, mas Prigogine defende a revisão da noção do tempo tal qual foi formulada por Galileu, a partir do que ele chama de “desenvolvimento espetacular da física.”

5. Irreversibilidade. Esse desenvolvimento fez surgir processos de não equilíbrio com tempo unidirecional, que antes eram simples e acessíveis pelas leis da dinâmica, como os que ocorrem na radiação a laser e na formação de turbilhões, que ressignificam a irreversibilidade não mais tratando-a como mera aparência. Citando-o, podemos ver a que ponto chega a necessidade de os compreender: “Sem a coerência dos processos irreversíveis de não equilíbrio, o aparecimento da vida na Terra seria inconcebível.” (p. 12).

 6. Um novo sentido. Por outro lado, o surgimento de sistemas dinâmicos instáveis reverte a noção de estabilidade, como o caos que é usado desde a cosmologia até a economia e que impacta a formulação das leis fundamentais da física. Há então um novo sentido para uma física que era completa e trabalhava com os conceitos de certeza, previsibilidade e possibilidade retrodizer o passado.

7. Paradoxo quântico. Um problema que o paradoxo do tempo pode resolver, de acordo com Prigogine, é o do papel do observador na teoria quântica, relacionado com a redução da função de onda[iv]. Se era o observador que quebrava a simetria temporal, com a introdução da instabilidade naquela teoria, ele perde seu papel singular e traz a teoria para uma formulação realista, porém estatística.

8. O tempo preexistia ao universo? De posse das transformações na dinâmica clássica e física quântica, Prigogine enfatiza que agora estamos no campo das possibilidades e não mais certezas e leis, e isso pode colocar um novo olhar no evento primordial que a física chama de big bang e se ele instaurou o tempo.

9. Tempo eterno. Essas novas fronteiras do conhecimento, se podem ser espaço para especulações, abrem possibilidades conceituais e permitem conceber que o big bang é o ponto de partida do universo, mas não o do tempo. O universo é uma instabilidade produzida no meio do tempo e Prigogine afirma: “Nessa concepção, o tempo não tem início e provavelmente não tem fim!” (p. 13).

10. Aplicabilidade. Por outro lado, se podemos a flecha do tempo pode ser afirmada nas fronteiras da física, há a questão de tratar as leis da natureza no campo experimental como na física e química.

11. Nova racionalidade. Prigogine também mostra que essa questão é crucial para o pensamento ocidental e já vendo debatida desde a era pré-socrática. Trata-se de conflito entre, por um lado o saber objetivo e de outro o ideal humanista de liberdade e democracia. Como é possível a ética em um mundo determinista? É crucial sairmos desse dualismo que opõe os pares ciência / certeza e probabilidade / ignorância.

12. Apenas o começo. Ele ressalta que, se Hawking entende que estamos próximos do fim, de decifrar o pensamento de Deus, em seu livro Breve história do tempo, para ele é apenas o começo de uma nova ciência que foge da idealidade e abre espaço para a criatividade humana.

É essa evolução das ideias sobre a natureza que Prigogine pretende desbravar inclusive comentando que já há simulações feitas em computador para novas predições. A excursão por uma ciência em evolução.



[i] Resenha do prólogo de PRIGOGINE, Ilya. O Fim das Certezas: Tempo, Caos e as Leis da Natureza. 2. ed. São Paulo: Editora UNESP, 2011.

[iii] Ludwig Eduard Boltzmann foi um físico austríaco, conhecido pelo seu trabalho no campo da termodinâmica estatística e considerado um dos fundadores da mecânica estatística. Foi defensor da teoria atómica, numa época em que ela ainda era bem controversa. https://pt.wikipedia.org/wiki/Ludwig_Boltzmann.

[iv] Uma explicação pode ser vista aqui: Superposição quântica, colapso da função de onda e combate à desinformação em física quântica. (https://www.youtube.com/watch?v=bQf5LugBy3Y) FÍSICA Prof. Daniel.

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