Passa
por aspectos que pedem por uma nova racionalidade[i]
1. Dilema do determinismo.
Prigogine inicia o prólogo citando o dilema do determinismo, termo
cunhado por Willian James, que exprime a tensão no senso comum, ilustrada por
Popper, entre uma série causal e a escolha livre. São questões que vemos
bastante nesse espaço e falamos na última reflexão[ii]. Porém ele enfatiza a
questão do tempo, que sentimos em nossa existência e que foi introduzido na
física por Galileu e utilizada na dinâmica newtoniana e que depois Einstein afirmou
ser uma ilusão.
2. Paradoxo do tempo.
Esse é o ponto crucial para Prigogine, não há flecha do tempo na
descrição fundamental da natureza, para muitos físicos, embora em outras áreas
como biologia e ciências humanas, passado e futuro desempenhem papéis
diferentes. Então, transportando o dilema do determinismo para o campo da
ciência física, surge o paradoxo do tempo, que é o tratamento por ela de
uma simetria atemporal.
3. Ruptura.
De acordo com Prigogine, o paradoxo do tempo foi identificado por Ludwig
Boltzmann[iii], no século XIX, ao
propor ao modo darwiniano o tratamento dos fenômenos físicos em termos
evolutivos e, assim, distinguir entre passado e futuro. Ele ressalta que a
flecha do tempo era uma ameaça para aquela proposta newtoniana “ideal, objetiva
e completa” e a nova física quântica, que a incorpora, também não deveria
destruir o edifício construído sobre a física clássica.
4. Desenvolvimento da física.
Nesse campo de disputa, autores buscam relegar a flecha do tempo à descrição
humana da natureza, campo fenomenológico, mas Prigogine defende a revisão da
noção do tempo tal qual foi formulada por Galileu, a partir do que ele chama de
“desenvolvimento espetacular da física.”
5. Irreversibilidade.
Esse desenvolvimento fez surgir processos de não equilíbrio com tempo
unidirecional, que antes eram simples e acessíveis pelas leis da dinâmica, como
os que ocorrem na radiação a laser e na formação de turbilhões, que
ressignificam a irreversibilidade não mais tratando-a como mera aparência. Citando-o,
podemos ver a que ponto chega a necessidade de os compreender: “Sem a coerência
dos processos irreversíveis de não equilíbrio, o aparecimento da vida na Terra
seria inconcebível.” (p. 12).
6.
Um novo sentido. Por outro lado, o surgimento de sistemas dinâmicos
instáveis reverte a noção de estabilidade, como o caos que é usado desde a cosmologia
até a economia e que impacta a formulação das leis fundamentais da física. Há
então um novo sentido para uma física que era completa e trabalhava com os
conceitos de certeza, previsibilidade e possibilidade retrodizer o passado.
7. Paradoxo quântico.
Um problema que o paradoxo do tempo pode resolver, de acordo com Prigogine, é o
do papel do observador na teoria quântica, relacionado com a redução da função
de onda[iv]. Se era o observador que
quebrava a simetria temporal, com a introdução da instabilidade naquela teoria,
ele perde seu papel singular e traz a teoria para uma formulação realista,
porém estatística.
8. O tempo preexistia ao universo? De
posse das transformações na dinâmica clássica e física quântica, Prigogine
enfatiza que agora estamos no campo das possibilidades e não mais certezas e
leis, e isso pode colocar um novo olhar no evento primordial que a física chama
de big bang e se ele instaurou o tempo.
9. Tempo eterno.
Essas novas fronteiras do conhecimento, se podem ser espaço para especulações, abrem
possibilidades conceituais e permitem conceber que o big bang é o ponto de
partida do universo, mas não o do tempo. O universo é uma instabilidade produzida
no meio do tempo e Prigogine afirma: “Nessa concepção, o tempo não tem início e
provavelmente não tem fim!” (p. 13).
10. Aplicabilidade.
Por outro lado, se podemos a flecha do tempo pode ser afirmada nas fronteiras
da física, há a questão de tratar as leis da natureza no campo experimental
como na física e química.
11. Nova racionalidade.
Prigogine também mostra que essa questão é crucial para o pensamento ocidental
e já vendo debatida desde a era pré-socrática. Trata-se de conflito entre, por
um lado o saber objetivo e de outro o ideal humanista de liberdade e democracia.
Como é possível a ética em um mundo determinista? É crucial sairmos desse
dualismo que opõe os pares ciência / certeza e probabilidade / ignorância.
12. Apenas o começo.
Ele ressalta que, se Hawking entende que estamos próximos do fim, de decifrar o
pensamento de Deus, em seu livro Breve história do tempo, para ele é apenas o
começo de uma nova ciência que foge da idealidade e abre espaço para a
criatividade humana.
É essa evolução das ideias sobre a
natureza que Prigogine pretende desbravar inclusive comentando que já há simulações
feitas em computador para novas predições. A excursão por uma ciência em evolução.
[i] Resenha do prólogo de PRIGOGINE,
Ilya. O Fim das Certezas: Tempo, Caos e as Leis da Natureza. 2. ed. São Paulo:
Editora UNESP, 2011.
[ii] Ver Introdução ao
livre-arbítrio: https://www.reflexoesdofilosofo.blog.br/2025/05/introducao-ao-livre-arbitrio.html.
[iii] Ludwig Eduard Boltzmann foi um
físico austríaco, conhecido pelo seu trabalho no campo da termodinâmica
estatística e considerado um dos fundadores da mecânica estatística. Foi
defensor da teoria atómica, numa época em que ela ainda era bem controversa. https://pt.wikipedia.org/wiki/Ludwig_Boltzmann.
[iv] Uma explicação pode ser vista
aqui: Superposição quântica, colapso da função de onda e combate à
desinformação em física quântica. (https://www.youtube.com/watch?v=bQf5LugBy3Y) FÍSICA Prof. Daniel.
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