Uma primeira reflexão sobre a linguagem privada
Eu falo e você me ouve, mas entende? Ora, aparente
sim, nos comunicamos e a vida segue. A gente vai conversando e se comunicando, a
gente vai sobrevivendo. O problema é que não há garantias de que você entende o que
eu falo e um dos pontos principais é a suposição de que há uma linguagem
privada que você tem e outra que eu tenho.
É como se você precisasse inferir a partir
do seu estoque de coisas mentais, de coisas aprendidas, o que eu digo. Esse tipo
de pensamento traz a impressão de que cada um tem a sua caixinha de coisas
guardadas que dão sentido ao mundo. Então eu digo algo do meu estoque que tem
um significado para mim e você escuta e processa de acordo com o seu mundinho.
Vida que segue.
Ocorre que essa linguagem privada é
quimera. Você pode ter uma dor dente e essa dor de dente é sua. Não adianta
você me dizer que dói demais, eu não sei o que é isso. Eu posso saber por uma
expressão, por uma cara de dor ou por uma reclamação reiterada. Você não pode me
comunicar a sua quantidade de dor de dente e não há uma regra para medir a sua
dor dente. Ora, com a linguagem é o mesmo.
Não adianta você dizer que entende A ou B
do que eu falo. E eu falo C. A, B e C são coisas mentais e privadas e não existe
uma linguagem privada porque não existe linguagem de uma pessoa. Pode haver um
discurso mental, aquele capetinha que fica no ouvido. Mas isso é seu, não me
importa.
Pode haver, no mínimo, uma linguagem de
dois, mesmo que seja um dialeto, mas é algo que vai se acordando. Linguagem é
acordo, é para fora, não é para dentro. Não importa o que algo significa para
você, importa o que você expressa e o que o outro pode entender, e isso é um
problema básico de linguagem.
Trata de um problema de linguagem que me surgiu quando dando uma lida em “ESTUDO SOBRE REGRAS E LINGUAGEM PRIVADA”. Acesso em 22/06/2024 pelo link: https://teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8133/tde-02122009-093554/publico/NARA_MIRANDA_DE_FIGUEIREDO.pdf.
ResponderExcluirHá um equívoco em tratar a dor de dente como incomunicável, esse é outro problema de linguagem que estamos tentando entender e tratamos duas reflexões adiante
ResponderExcluirO problema está na frase "eu tenho uma dor de dente que não posso comunicar". O correto seria "estou com aquela dorzinha de dente, sabe?"
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