Menino, não aponta o dedo que é feio![i]
A gente normalmente está acostumado a
apontar para alguma coisa quando se pergunta pelo significado de algo. Por
exemplo, quando nos perguntamos sobre uma maçã, podemos apontar para a fruta e
então podemos falar sobre ela. Isso é muito comum, os bebês desde cedo aprendem
dessa forma, apontando, não é mesmo? (já imagino aquele dedinho para cima)
Na maior parte das vezes, então, falamos
sobre coisas e aí fica óbvio que esse é um caminho natural e correto. Até mesma
sobre nossos problemas, nós os nomeamos e falamos sobre ele, eles se tornam
coisas tangíveis. A gente fala de uma coisa, mas a gente usa a linguagem para
falar dessas coisas. Porque as coisas em si mesmas estão lá paradas, quietas. A
cadeira está lá, eu posso até atribuir uma propriedade para cadeira e ainda
assim ela está lá. E podemos usar frases para colocar a cadeira em movimento,
como ao dizer que a cadeira está “gasta”. Aí passamos uma ideia de movimento
atribuindo um estado à cadeira, ela era nova e com o tempo ficou velha.
Mas há ocasiões em que não conseguimos
apontar para as coisas e aí passamos para uma seara de difícil comunicação. Eu
posso falar que estou ansioso, mas eu não consigo apontar para uma ansiedade. O
número um, onde está? Há muitos casos que fazem com que nós tenhamos que
“significar” as coisas de outro modo, que não o apontar. Daí conclui-se que a
significação não se coaduna com a referenciação e uma coisa que parecia banal
sofre um salto e precisa de nova interpretação.
Além do mais, o apontamento é nominalismo
porque a palavra maçã significa a fruta maçã. A palavra é uma etiqueta para a
coisa. Mas não é o caso que o significado de maçã seja a sua correspondência
com a fruta porque isso fura a regra para muitos outros casos. Em realidade o
significado de maçã se dá pela forma pela qual usamos a palavra maçã na
linguagem.
Primeiro, pelas regras gramaticais, quando
temos o entendimento de que maçã é um substantivo ao qual atribuímos
propriedades, como cor, tamanho, etc. Segundo, ao usarmos dentro de um contexto,
vejamos. Se um russo chega agora aqui em casa e eu ofereço uma maçã, ele
prontamente poderá usar seu dicionário bilingue para entender o que eu quis
dizer. Mas se eu pergunto para ele se quer uma maçã do amor, isso poderá
deixá-lo em pandarecos porque maçã do amor é muito entendível por muitos, mas
não por todos, e esse é outro problema de linguagem.
[i] Trata de um problema de linguagem que me surgiu quando dando uma lida em “ESTUDO SOBRE REGRAS E LINGUAGEM PRIVADA”. Acesso em 22/06/2024 pelo link: https://teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8133/tde-02122009-093554/publico/NARA_MIRANDA_DE_FIGUEIREDO.pdf.
Fica a dúvida se pela postura cética sempre deveria haver algo a ser apontado
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