Tenta abordar a distinção entre definição e descrição
e como ela pode esclarecer problemas de linguagem[i]
Nós comentamos que “não podemos sentir a
dor do outro”. Eu não posso sentir a sua dor de dentes. Ocorre que essa
impossibilidade é lógica e tentaremos elucidar. E, para isso, voltaremos ao
contexto.
Vejamos um exemplo: “manga não é
manga”. Essa sentença faz todo o sentido se estivermos usando os termos para
falar da vestimenta e da fruta. Mas se assumirmos a convenção de que a manga da
camisa não é mais somente manga, mas “manga da camisa”, então “manga seria sempre
manga”, isto é, a fruta.
Nós podemos notar, com esse caso, que uma
sentença pode ser verdadeira ou falsa dependendo do contexto, mas isso porque
estamos nos referindo a algo no mundo, estamos tratando de sentenças que
descrevem fatos, “descritivas”.
Por outro lado, não dá para dizer que “ele
caiu para cima”, pelo menos aqui na terra e em se tratando do contexto físico. Essa
é uma definição, uma regra que não é verdadeira nem falsa. Dizer que “caiu para
cima” é uma impossibilidade lógica, assim como dizer que a “bola não é bola”.
Há, em Wittgenstein, de acordo com Nara, essa
impossibilidade lógica e é exatamente essa impossibilidade lógica que faz com
que “eu não possa sentir a sua dor de dente”, porque partimos de uma regra de
que há uma dor interna de cada um. Mas se essa regra é flexibilizada e você me
diz que está sentindo aquele dor de “raspar o dente para retirar uma cárie”,
então eu posso dizer que já senti essa dor e, então, nós sentimos a mesma dor.
Seria esse argumento, se bem eu entendi
até agora, que versa contra a linguagem privada, ou uma dor não compartilhada,
ou um ego intransponível que beira o solipsismo. Isso tudo é um problema de linguagem.
Se fizermos a análise da linguagem, dos usos termos, veremos que muitos conceitos
caem e a metafísica pode se esfarelar. Mas esse trabalho é árduo e complicado e
nosso entendimento do problema ainda é igual ao de um bebezinho que aponta para as coisas.
[i] Essas últimas observações têm se baseado no “ESTUDO SOBRE REGRAS E LINGUAGEM PRIVADA”, de Nara Miranda de Figueiredo, conforme referido em https://www.reflexoesdofilosofo.blog.br/2024/06/apontar-nao-e-nada.html. Os erros de compreensão são meus, pois ainda são notas muito embrionárias de quem está com pouco tempo.
O problema é retirar a palavra, o termo de um contexto e aplicá-lo em outro, "inventando" uma regra. Às vezes, isso é filosofia.
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