É um exercício de filosofia da linguagem ainda bem incipiente
e incompleto[i]
Se eu digo “Gilberto Gil é o baiano com
mais balanço”, o que isso significa e a quem me refiro? Do ponto de vista
intuitivo, a frase acima significa que me refiro a Gil, isto é, o significado
de Gil é o próprio Gil, qual seja, a referência. Agora, se eu digo “Gilberto
Moreira é o baiano com mais balanço”, o que isso significa e a quem me refiro?
Da mesma forma, intuitivamente, essa
segunda frase assere a Gilberto Moreira a descrição de ser o baiano com mais
balanço. Ora, se o significado é a referência, temos um problema aqui:
temos dois nomes referindo à mesma pessoa, como que sendo dois significados diferentes
para a mesma referência. Além do mais, certamente alguém pode não saber que
Gilberto Moreira é Gilberto Gil e pensar se tratar de outra pessoa.
Essas questões iniciais trazem algumas dificuldades
em se tratar do significado de um nome como sendo a própria referência, pois
parece que impede flexões. Então, o que podemos fazer é separar o significado da
referência, de modo que haja uma referência (Gil) e muitos significados (Gilberto
Gil, Gil Moreira, o baiano com mais balanço, o primogênito de José Gil Moreira,
etc.). Ora, temos aí duas teorias da referência: uma direta (o significado é a
referência) e outra indireta (o significado é uma descrição da referência[ii]).
Ora, agora parece que temos uma
maleabilidade maior em descrever as referências de acordo com as descrições que
queiramos e nos afastando de um significado fixado. Isso aproxima o nome que
identifica o objeto das descrições [definidas] que identificam o objeto. Ainda
assim, vejamos, há uma âncora lá: a referência. Mas ela pode não haver como em “Saci-pererê
é o menino mais travesso”, considerando que o saci-pererê não existe.
Isso leva a um terceiro e último aspecto
que gostaríamos de comentar. O fato de “falar de” seja por um nome (fixo) ou uma
descrição levanta dificuldades de comunicação quando falta ou sobra significado
ou referência, o que nos leva a suprimir a descrição definida por uma análise
lógica. Assim, o que quereria dizer a frase “O primogênito de José Gil Moreira é
o baiano com mais balanço”? Que existe um primogênito de José Gil Moreira, que
há no máximo um primogênito de José Gil Moreira e que, quem quer que seja o
primogênito de José Gil Moreira, ele é o baiano com mais balanço.
Tem-se que a descrição definida se despe
em uma asserção de existência (o primogênito existe), de univocidade (só há um
primogênito do José Gil) e da predicação (ele é o baiano com mais balanço). Essa
análise já permitiria também refutar o saci-pererê[iii]. A camada aparente da
linguagem fica, assim, subsumida à sua base lógica real e evitamos problemas de
interpretação e comunicação.
Bem, esperamos não ter errado muito,
esperamos que argumentação tenha um pouco de clareza e que possa ter coberto em
linhas gerais os pontos principais, embora nesse momento eu não esteja tão
certo que isso tenha sido feito a contento.
[i] Nossa intenção com esse primeiro exercício
de filosofia da linguagem, descompromissado, é nos aproximarmos da escrita técnica
e tentar passar brevemente pelos primórdios das teorias, circunscrevendo-nos entre
Russell e Frege e só.
[ii] Conforme Frege, o sentido, ou
seja, um modo de apresentar o objeto (a referência).
[iii] Já que não existe, apesar de Meinong ter proposto que ele tem um ser, que faz parte da realidade dos inexistentes.
Conforme Ruffino o nome pode significar a coisa ou uma descrição da coisa, um sentido que damos pra coisa.
ResponderExcluirConforme Ruffino: coisa + sentido (característica da palavra)
ResponderExcluirLembrar, sobre Meinong, que postular objetos inexistentes pode ser contra Occam e seu conselho de simplificação
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