sábado, 16 de julho de 2022

Do nome à descrição definida dele

É um exercício de filosofia da linguagem ainda bem incipiente e incompleto[i]

Se eu digo “Gilberto Gil é o baiano com mais balanço”, o que isso significa e a quem me refiro? Do ponto de vista intuitivo, a frase acima significa que me refiro a Gil, isto é, o significado de Gil é o próprio Gil, qual seja, a referência. Agora, se eu digo “Gilberto Moreira é o baiano com mais balanço”, o que isso significa e a quem me refiro?

Da mesma forma, intuitivamente, essa segunda frase assere a Gilberto Moreira a descrição de ser o baiano com mais balanço. Ora, se o significado é a referência, temos um problema aqui: temos dois nomes referindo à mesma pessoa, como que sendo dois significados diferentes para a mesma referência. Além do mais, certamente alguém pode não saber que Gilberto Moreira é Gilberto Gil e pensar se tratar de outra pessoa.

Essas questões iniciais trazem algumas dificuldades em se tratar do significado de um nome como sendo a própria referência, pois parece que impede flexões. Então, o que podemos fazer é separar o significado da referência, de modo que haja uma referência (Gil) e muitos significados (Gilberto Gil, Gil Moreira, o baiano com mais balanço, o primogênito de José Gil Moreira, etc.). Ora, temos aí duas teorias da referência: uma direta (o significado é a referência) e outra indireta (o significado é uma descrição da referência[ii]).

Ora, agora parece que temos uma maleabilidade maior em descrever as referências de acordo com as descrições que queiramos e nos afastando de um significado fixado. Isso aproxima o nome que identifica o objeto das descrições [definidas] que identificam o objeto. Ainda assim, vejamos, há uma âncora lá: a referência. Mas ela pode não haver como em “Saci-pererê é o menino mais travesso”, considerando que o saci-pererê não existe.

Isso leva a um terceiro e último aspecto que gostaríamos de comentar. O fato de “falar de” seja por um nome (fixo) ou uma descrição levanta dificuldades de comunicação quando falta ou sobra significado ou referência, o que nos leva a suprimir a descrição definida por uma análise lógica. Assim, o que quereria dizer a frase “O primogênito de José Gil Moreira é o baiano com mais balanço”? Que existe um primogênito de José Gil Moreira, que há no máximo um primogênito de José Gil Moreira e que, quem quer que seja o primogênito de José Gil Moreira, ele é o baiano com mais balanço.

Tem-se que a descrição definida se despe em uma asserção de existência (o primogênito existe), de univocidade (só há um primogênito do José Gil) e da predicação (ele é o baiano com mais balanço). Essa análise já permitiria também refutar o saci-pererê[iii]. A camada aparente da linguagem fica, assim, subsumida à sua base lógica real e evitamos problemas de interpretação e comunicação.

Bem, esperamos não ter errado muito, esperamos que argumentação tenha um pouco de clareza e que possa ter coberto em linhas gerais os pontos principais, embora nesse momento eu não esteja tão certo que isso tenha sido feito a contento.



[i] Nossa intenção com esse primeiro exercício de filosofia da linguagem, descompromissado, é nos aproximarmos da escrita técnica e tentar passar brevemente pelos primórdios das teorias, circunscrevendo-nos entre Russell e Frege e só.

[ii] Conforme Frege, o sentido, ou seja, um modo de apresentar o objeto (a referência).

[iii] Já que não existe, apesar de Meinong ter proposto que ele tem um ser, que faz parte da realidade dos inexistentes. 

3 comentários:

  1. Conforme Ruffino o nome pode significar a coisa ou uma descrição da coisa, um sentido que damos pra coisa.

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  2. Conforme Ruffino: coisa + sentido (característica da palavra)

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  3. Lembrar, sobre Meinong, que postular objetos inexistentes pode ser contra Occam e seu conselho de simplificação

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