Foucault
vai tratar de uma história de exclusão na filosofia que teria começado com Aristóteles.
Antes dele, Platão discutiu com os sofistas, que seriam aqueles homens que se
utilizariam da retórica e da persuasão para exercer o poder. Para Platão, que
considerava que o discurso em sua essência deveria ser verdadeiro, o sofista
seria um simulador e seu discurso não trataria da verdade, seria mera aparência,
falsidade. Foucault considera
Aristóteles o fundador da filosofia, já que ele teria sistematizado esse tipo
de conhecimento como sendo um modo de organizar o discurso. Se Platão teria
discutido com os sofistas, Aristóteles teria tratado do sofisma, mostrando o
que eles seriam e como se produziriam. Se, para Platão, o discurso do sofista
seria um discurso falso que pareceria verdadeiro, para Aristóteles o sofisma
não seria um discurso racional e seria rechaçado. Para Foucault, a filosofia aristotélica
seria um discurso racional e argumentado, o discurso do Logos, ao passo que o
sofisma seria, de acordo com Aristóteles, a dedução de uma conclusão de maneira
incorreta. Haveria afirmações verdadeiras e falsas e os sofismas, que estariam excluídos
do discurso filosófico.
Entretanto,
Foucault vai se colocar do lado dos sofistas, tratando o discurso como um exercício
das palavras e usado nas relações de poder. Se, em sua visão, na análise do
discurso por Aristóteles ele consideraria o sofista como quem utilizaria a
palavra de maneira ambígua, Foucault argumenta que o sofisma é um jogo de
palavras, mas com estratégia política. De acordo com Foucault, para Aristóteles, o discurso seria da verdade e independente da política. Foucault considera que
Aristóteles teria criado uma ordem de discurso excluindo outros que pudessem
estabelecer um confronto. Tal ordem de discurso como conhecimento da verdade
teria perdurado até Hegel e, a partir de Nietzsche, seria possível sair dessa
lógica. A filosofia de Nietzsche permitiria ampliar os limites da própria
filosofia.
Foucault
mostra que a Metafísica começa com o seguinte enunciado: “Todos os homens
desejam por natureza saber”. Enunciado universal (Todos) e restrito aos seres
humanos. Enunciado que vincularia desejo e saber incitando um prazer ao se contemplar
a natureza. O conhecimento da verdade passaria pelas sensações corpóreas
provocando seu acúmulo na memória. Então, pela experiência, os homens usariam
esse conhecimento empírico armazenado na memória para, através de um ato de
razão, não repetir os mesmos erros e mudar a sua ação. O quarto e último
estágio seria o conhecimento da verdade, acessível somente àqueles com mais
saber. Tal conhecimento é a ciência filosófica, desejo de saber independente da
utilidade. A filosofia seria uma ciência inútil, mas de máxima virtude, que nos leva do
prazer corporal em direção à felicidade: a eudaimonia.
Para
Foucault, esse desejo de conhecer a verdade exclui outros discursos, como o desejo
de saber utilitário do sofista. Para ele, não se separa verdade e poder, e o próprio
poder fabrica a verdade. Foucault se vale de Nietzsche para argumentar que não
há verdades puras, as verdades são fabricadas por batalhas. De fato, a primeira
batalha pelo poder teria se dado entre Platão e os sofistas e, se Aristóteles
fabricou a verdade filosófica, ela se manteve ao longo de lutas através do
tempo. Foucault usa o modelo nietzschiano para fazer estudos históricos, como
as relações de poder se dão nas práticas sociais. Como fez Nietzsche na genealogia da
moral, Foucault fará uma genealogia das relações de poder dentro de uma ordem
de discurso, para verificar o que é considerado verdade, falsidade ou mesmo o
que está fora dessa ordem em dada sociedade e momento histórico. A investigação
sobre o discurso mostrará os modos em que os discursos se organizam e são
controlados em toda a sociedade e os procedimentos para proibir ou rejeitar
determinados tipos de discursos.
(*) Conforme informações fornecidas
pelo Prof. Dr. Gustavo Adolfo Romero, em: “81565 - Michel Foucault, filósofo de
la verdad. Un estudio de sus cursos en el Collège de France”. 1º Summer School da FFLCH: Janeiro/2018.
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