quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Que se entende por consciência*

Schopenhauer trata do conceito de consciência no âmbito das faculdades cognoscíveis, sob três aspectos.
Percepção exterior. A maior parte da nossa faculdade cognoscível é composta da percepção exterior que se volta para fora de nós em busca dos objetos do mundo e da experiência. De fato, não é parte da consciência e é responsável pelas condições de possibilidade do conhecimento dos objetos nas formas de tempo, espaço e causalidade.
Consciência psicológica. Essa é de fato a percepção imediata do eu, o pouco que sobra de nossa faculdade de conhecer e se opõe à percepção exterior.
Consciência moral. Há um conjunto de instintos morais que nos vêm, seja de forma inata ou pela experiência e reflexão, que Schopenhauer chama de razão prática (a kantiana) e que não se confunde com a consciência propriamente dita.
Dado que a consciência não é algo vultoso, é a partir dela que se demonstraria o livre-arbítrio. De pequena, seu conteúdo é a vontade pessoal. Vontade que gera atos, mas que se manifesta nas formas do desejo, amor, cólera, etc., prazer e dor e que chega até às impressões corpóreas. Ou seja, é pela vontade, seu objeto único, que uma consciência chega ao mundo exterior, via sensibilidade, conhecendo os objetos dados à percepção, domínio que já não pertence mais a ela.
Schopenhauer argumenta que não há dúvidas de que nossa vontade está voltada fora, caso contrário, “o homem não conservaria mais senão uma vontade completamente isolada do mundo exterior, ficando como que emparedado no sombrio interior da consciência individual” (p. 35). A pergunta que ele nos deixa é se essa consciência poderia encontrar em si, somente, os impulsos que permitiriam afirmar a liberdade dessa vontade, dado que os objetos determinam os atos de vontade em algum grau de necessidade? Haveria um impulso exclusivo da consciência que poria em marcha a vontade livre?


(*) Segunda definição do capítulo primeiro. Em: Schopenhauer, Arthur. O Livre Arbítrio - Col. Saraiva de Bolso.

Nenhum comentário:

Postar um comentário