Onto:
ser, gênese: geração. Então: geração do ser e sobrevivência. Ou seja, o ser é
gerado, de algum modo e em algum momento, vive e morre. Depois que morre, fica
algo, algo sobrevive? Ordinariamente podemos admitir que nós nascemos quando
ocorre a fecundação do óvulo de mamãe pelo espermatozoide de papai. E que
morremos quando coração e cérebro param de funcionar. Mas, houve em algum
momento a concorrência de uma decisão para o nosso nascimento? Foi mera
casualidade ou haveria de ser dessa forma? Sendo mera casualidade fica
realmente difícil propor qualquer teleologia. Ainda mais importante: somos algo
de nossos pais e antepassados? Há algo deles que sobrevive em nós? Poderíamos
efetuar a leitura de ontogênese e sobrevivência na chave de um continuum; há uma plasticidade nas
passagens, não há beirada, não há ruptura. E também a nossa vivência seria uma composição
contínua, de algum modo se unificando em nosso ser.
A relativização
de conceitos limita sua análise, mas facilita a compreensão. Uma coisa é
analisar a sobrevivência por ela mesma, ou o que é a ontogênese. Estaríamos em
um campo vasto de possibilidades e não teríamos algo em que nos apoiar. Porém,
é muito mais fácil compreender a ontogênese em
relação à sobrevivência e vice-versa. Pelo que nos é possível entender
nesse momento, ontogênese e sobrevivência apontam para um continuum. Tomar o continuum
como método de análise significa que não há uma ontogênese estrito senso porque
sempre há uma sobrevivência. A história deixa de apresentar divisões para ser
vista de maneira plástica: da idade média para o renascimento costumes se mantêm,
não surge um novo homem. Mais do que isso, o homem renascido resgata o antigo e
o funde no medieval, obviamente acrescentando algo. O continuum descarta o começo e marca a trajetória, o traçado. O continuum revela que não há fim e não
importa a casualidade, mas a sobrevivência.
* A partir do mote de Maurício Ramos: http://filosofia.fflch.usp.br/files/graduacao/progs_pdf/2017-1/FLF0441_1_2017.pdf
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