O que te incomoda? O que me incomoda? É um
problema pessoal, familiar, social? É físico? Ou metafísico? Há algo que te
incomoda? Há algo que me incomoda. Precisamos de um problema, o grande
problema. Há tantos problemas... Mas qual é “o” problema? Há algo mal
resolvido, sempre. Não fazemos nada tão interessante, escutamos e vemos tantas
coisas. Cremos nisso? No que cremos? Nosso problema é a crença? É a vida ou a
morte? É Deus ou o Diabo? Se existe, ponhamos com maiúscula... Ou o incômodo é
simplesmente e nada mais do que o trânsito ou nosso time de futebol que não
ganha? A fofoca é um problema? Seria a miséria ou a má distribuição de renda que
gera tanta desigualdade e violência? E aquelas festas familiares tediosas e com
sorriso amarelo em todos os rostos? Haveria de ser as manifestações com todo
mundo de amarelo? Ou de vermelho, sei lá.
O incômodo que buscamos (e só há vida se
há incomodo, e só há vida se há incômodo que queremos superar) deveria ser
aquele incômodo que “realmente” nos incomoda. Ou seja, um incômodo concreto. A nosso
busca pelo incômodo, aqui, agora (nesse momento), visa o não incômodo, ou seja,
a sua superação. Eleger o incômodo significa que, dentre tantos, buscamos algo
extremamente importante e que deve ser resolvido. Haverá uma resposta para o
incômodo e queremos achá-la. Portanto, a eleição do incômodo é o critério valioso.
Não deve ser qualquer um, deve ser algo que nos marca e nos acompanha, lá, no
subterrâneo. Algo latente, mas não manifesto, talvez mais imanente do que
transcendente. O transcendente aceita muitas respostas e gera controvérsias,
mas podemos concretizar o transcendente.
Pode ser que um dos maiores obstáculos na superação
de um incômodo e, por isso, em sua eleição, seja nossa passividade. Todas as
respostas já foram dadas. Basta procurar, não é preciso formular. Afinal, faz
tempo que estamos aqui habitando esse planeta e não haveriam tantos problemas
novos. E esse, definitivamente, é o ponto. Saber que há problemas, saber que há
respostas e: saber que não é a nossa resposta!!! Aceitar as respostas, adaptar
as respostas à nossa situação e mudarmos. Não o incômodo, mas a sua formulação.
Mudamos a formulação do incômodo para achar uma resposta escondendo o verdadeiro
incômodo e o colocando na vala de todos os incômodos indiscerníveis e seguir.
Estaríamos fadados a esse fim? Mudar a
formulação dos nossos incômodos para que as respostas já dadas os resolvam? Parece
que sim porque é assim que ocorre, é dessa maneira que sempre vimos as coisas. A ciência, entidade que
comanda nosso progresso, a promessa, age assim: universaliza-se, acha-se uma
lei, generaliza-se excluindo o particular. A lei da gravidade é a lei geral que
vale para todos os corpos, até para os celestes!! Mas, além de tal utilidade e,
claro, conforto, já que a lei da gravidade é um passo na longa escalada
tecnológica que nos trouxe a esse grandioso tempo super-informatizado e
digitalmente inteligente, essa fórmula responde ao meu incômodo ou será que eu
que transmuto o meu incômodo aos incômodos dados e respondidos?
Está na hora de mudar o método. Partir do
incômodo único e pessoal, singular. É o seu, o meu incômodo que precisa de resposta.
É a sua, a minha investigação que vai proporcioná-la. Obviamente, interessa a
resposta para incômodos similares e podemos usá-la, mas não como
fórmulas prontas porque o incômodo é biográfico, está inscrito em nós. Está na hora de levantar da poltrona e ir para o palco. Mentes brilhantes deram
respostas brilhantes e iluminaram a sociedade, mas quantas mentes brilhantes
foram ofuscadas? Buscar o incômodo é a chave para buscar a resposta e sistematizar.
Haja quantos sistemas houver, haja quantos incômodos forem necessários, todas
as respostas devem ser publicadas e um dia podem ser lidas, pois estarão catalogadas
na biblioteca de Babel.
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* Maurício Ramos e o método que busca o conceito genético. Formas em movimento: ontogênese e sobrevivência, 07 de abril de 2017.
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