Sobre o problema
Respondendo a um concurso da Sociedade Real (assim como já o fizera Rousseau...) sobre o fundamento da filosofia moral, Schopenhauer parte de duas premissas: 1. tratar do fundamento objetivo da moral em seu campo teórico, independente de metafísica e 2. não se abalar pelos clamores do coração, mas buscar a verdade, sem interferências. Entretanto, a seguir, exalta a metafísica, apontando a dificuldade de se tratar da ética sem uma metafísica que verse sobre as coisas em geral e corroborando que a filosofia é um todo do qual não se pode separar uma parte. Desse modo, a filosofia é composta da metafísica do belo, da natureza e dos costumes, que formam o seu todo.
Dada a tarefa proposta pela academia, separar ética e metafísica significa uma exposição que siga o caminho analítico partindo de fatos e não o sintético já baseado em uma metafísica; explicação psicológica que não extrapole os limites da questão pedida se enveredando por um sistema metafísico. Schopenhauer, então, coloca que o fundamento que irá propor é simples e acanhado e não se vale, em uma crítica expressa a Kant, de um imperativo categórico que sirva como sustentáculo. Não há imperativo porque as ações humanas não possuem conteúdo moral ou se orientam por uma lei.
Visão geral retrospectiva
De acordo com Schopenhauer, o senso comum se vale de uma moral teológica - fundamento eficaz, devido à dificuldade de se argumentar em terreno distante de Deus. Os filósofos tentam, mas não escapam, e assim o fez Kant limitando qualquer uso especulativo da teologia, mas usando-a como suporte da fundamentação prática. E tamanha foi a influência kantiana que Schopenhauer destaca em sua época a busca de outros alicerces para a ética. Para o filósofo ao longo do tempo sempre se pregou uma boa moral, mas que nunca foi bem fundamentada. As ações, então, agiriam em dissonância com a moral, já que a busca humana seria por sua felicidade e bem-estar. Mas, se a metafísica ainda procura seus primeiros princípios, os da ética os têm como parte essencial, embora haja a necessidade de se buscar um caminho diferente das tentativas trilhadas até então.
De todas as tentativas de fundamentação da ética, Schopenhauer se dedicará a criticar a mais nova e atual: a moral kantiana. Tal exercício, bem minucioso, lhe permitirá passar pelos conceitos éticos fundamentais e também pavimentar o terreno sobre o qual vai se opor diametralmente. É chegada a hora de retirar a ética de sua zona de conforto: o imperativo categórico da razão prática, a lei moral. Há, pergunta Schopenhauer, tal lei moral inscrito em nossa razão ou mesmo nas emoções? Para ele, a moral kantiana carece de fundamento sólido e deverá ser demonstrado que conceitos como Razão Prática e imperativo categórico são injustificados e inventados para nos proporcionar um conforto moral.
Nenhum comentário:
Postar um comentário