quarta-feira, 1 de junho de 2016

Considerações gerais sobre a Filosofia da Mente

A Filosofia da Mente estuda a mente filosoficamente. O método filosófico, por um lado, é o método de questionamento, de investigação de um determinado assunto ou tema, por outro lado, é o método do método: o método de verificar como as ciências se comportam ao aferir determinado assunto, descrevendo-as ou determinando-as. Então, a Filosofia da Mente pode investigar se há uma mente, qual a sua natureza, qual a sua relação corpo (se houver), qual seu comportamento, etc. E filósofos investigam isso e propõe teorias. Mas, a Filosofia da Mente também pode investigar como as demais ciências estão estudando e teorizando a mente: a biologia, a psicologia, a neurociência, etc.
A investigação filosófica é sempre histórica: a mente existe desde quando o homem é homem (assim imaginamos) e os questionamentos acerca dela também. Nesse sentido, a investigação filosófica é muito científica: eu posso inventar uma teoria da mente agora, mas que validade ela teria? Que influências? Entretanto, certo exercício filosófico pode ser permitido para avaliar as possibilidades, puro opinionismo que visa uma tese futura, embasada, com as fontes devidamente referenciadas, com os vieses bem claros e com as tendências exacerbadas. Daremos, então, uma breve visão geral descompromissada que sirva como parâmetro do estágio atual que me é permitido compreendê-la até agora.
Partiremos da nossa definição de mente como um substrato imaterial que acompanha nossa atividade física corporal e cerebral. Nesse sentido, não somos materialistas, ou seja, a mente não se resume à matéria, ela é um algo mais. Não queremos aproximá-la do conceito de alma como algo que era, foi e sempre será independente do corpo. Acreditamos em algum tipo de ligação corpo-mente. Nesse sentido, não somos espiritualistas, ou seja, a mente não se confunde com a alma e, se o corpo falece, a mente não permanece (alguém já viu alguma mente por aí?). Também não somos comportamentalistas ou funcionalistas, não queremos explorar a mente através de uma conceituação lógica, ou seja, não queremos explicar os estados e comportamentos da mente. Nesse sentido, nos afastamos de uma mera psicologia.
A mente, então, é algo de tamanho muito pequeno, algo como um efeito do corpo e suas sensações e da memória, do intelecto e uma suposta racionalidade. A mente é o lugar onde os sentimentos florescem, para onde as emoções convergem, a mente é uma foto instantânea de algo que nos representa nesse momento. Ela aparece e só sabemos dela porque refletimos. Tudo fica no corpo, é o corpo físico e material que sente, que armazena conhecimento, que guarda mágoas, enfim. Seu único papel [da mente] é nos dizer que somos seres humanos racionais e que em cada momento existe algo acontecendo conosco, uma evanescência. Mas a mente sempre está atrasada, ela está sempre depois de algo que se realizou. Não postulamos nenhum tipo de autonomia da mente, da nossa racionalidade sobre as nossas ações no mundo. Há, sim, uma vontade que é a conjunção de tudo que se passa no momento que decisões dela partem, e tudo é físico dentro e fora de nós. Tudo estocado em nós e nos outros, pelo corpo e no mundo. É o corpo quem decide, o corpo que come, o corpo que escreve, que chora, que mata. É o corpo em contato com suas sensações e com outros corpos. Mas, estamos falando de Filosofia da Mente ou Filosofia do Corpo?
Falar da Filosofia do Corpo poderia ser considerado uma petição de princípio já que a Filosofia acenderia ou descenderia da racionalidade. Então, queremos trabalhar com uma filosofia da mente incorporada (Merleau-Ponty) e queremos entender o seu método, seus objetivos e limites. A filosofia da mente incorporada visa investigar como e porque se dão determinadas reações psíquicas em virtude de acontecimentos estritamente corporais. Seu método é propor qual o resíduo mental, qual efeito corporal oriundo de causas que devem ser explicadas em termos não lógicos, mas interpretativos. A filosofia da mente incorporada é a simbologia de nossa história de vida, de nossa história humana, de nossa história de mundo. A filosofia da mente incorporada deve somar toda influência mecânica ou mesmo quântica ou relacional que interprete, simbolicamente, o que se passa. Ela parte de casos particulares e avança para o geral. Mas o seu limite é o particular. A filosofia da mente incorporada é a nossa auto explicação e não requer validade objetiva, requer somente interpretação intersubjetiva.

ps. Afinal, não há sempre uma explicação, justificativa ou causa para nossas ações? Porém, devemos explicar sentimentos como tristeza, dor, uma emoção, um choro e outras coisas mais.

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