Aristóteles apresenta no livro Λ três tipos[1] de substâncias: duas
sensíveis e uma não sensível. As sensíveis se distinguem pela mudança: uma
sensível que não muda e outra que muda; e pelo movimento: as sensíveis se movem
e a não sensível é imóvel. Conforme Zingano[2], o Filósofo investigará
nesse livro se há um princípio que as une ou se elas seriam estudadas por
disciplinas diferentes.
Das substâncias sensíveis que
mudam. Elas são corruptíveis: geradas e
corrompidas. Seus princípios não são universais,
mas particulares: é um homem que é
princípio de outro, "princípio de Aquiles é Peleu” [3]. E materiais, já que cada indivíduo tem a sua forma e sua matéria e
essas coisas materiais mudam: Cálias da doença para a saúde[4]. Há outro princípio aqui:
o da substância[5].
São as substâncias do nosso mundo sublunar.
Das substâncias sensíveis que não
mudam. Delas pouco se fala, mas elas teriam
um movimento local e contínuo. Elas estariam entre as substâncias corruptíveis
e a imóvel. São os planetas, com seus movimentos eternos e circulares, sem geração
e nem corrupção, mas como Aristóteles caracteriza: “o movimento de translação é
a primeira forma de mudança” e depois falará que cada planeta possui mais de um
movimento de translação.
Das substâncias não sensíveis. Das substâncias sensíveis, dado que ambas se movem, há um princípio que é causa de tudo e em ato.
Ou seja, causas motoras para as coisas sensíveis se moverem (os planetas?), motores[6]. Tal é a substância não
sensível: eterna e imóvel. Não se fala aqui do sensível que
é gerado e corrompido, mas do movimento que não pode parar senão tudo acaba e
de um princípio motor capaz de gerar a mudança[7]. O eterno é para
Aristóteles em ato e sem matéria – não pode mudar. Mudança e
movimento: as coisas sensíveis mudam, mas, além disso, há um princípio de tudo:
princípio do movimento [eterno e único, conforme 1073a25].
Ao tratar da natureza do
suprassensível, Aristóteles argumenta que há algo que move sem ser movido
porque senão ele mudaria. O primeiro movente seria o propósito, o fim das
coisas se moverem. Nada se move por acaso e o fim último, a causa final são os
seres imóveis, causa de movimento tanto das coisas sensíveis corruptíveis e das
não corruptíveis. Dado, ainda, não haver infinito, deve haver um fim [107a30]. O
ser imóvel existe necessariamente, é um Bem e Princípio e seu modo de viver é
prazeroso no qual ele está sempre, pura atividade contemplativa. É pensamento,
mas pensamento por si, e na sua intuição coincidem inteligência e inteligível. Conforme
Aristóteles: “Deus é vivente, eterno e ótimo”. E “existe uma substância imóvel,
eterna e separada das coisas sensíveis”. Substância sem partes, sem grandeza, indivisível,
impassível e inalterável[8]. A substância não sensível
é uma substancia inteligível, Inteligência divina, que pensa a si mesmo por
todo o sempre.
É a substância divina que coordena
o universo porque todas as coisas não agem por acaso, mas movidas por um fim.
Embora cada coisa seja por si individualmente, ela tende para o todo, para o bem
comum. Diferentemente dos filósofos anteriores, Aristóteles concebe que o bem é
um princípio como causa final. Não há que se recorrer a nenhuma outra metafísica além
dessa sutileza, não há que se buscar uma causa formal ou eficiente porque não
se derivaria o algo extenso do que não tem grandeza. Sendo causa final, o fim é
diferente da substância divina [1075b8]. É a substância divina o governante que
organiza o todo e sob a qual estão pendurados céu e terra.
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* Livro Λ da Metafísica.
[1] Tipos, entidades, esferas, instâncias, etc...
[2] Notas de aula de História da Filosofia Antiga III, já que a tradução que usamos pressupõe que não.
[3] Diferente de Platão para quem as Formas eram causas universais.
[4] A matéria Cálias mudando e permanecendo.
[5] Ainda substância particular como um indivíduo que se for subtraído nada resta, como nas Categorias.
[6] Diferente das Formas (ou Números Ideais) que Aristóteles afirma não serem ativos.
[7] Conforme Zingano: “fourth item, the mover, is an individual and that, at the same time, it plays the role of the common principle for all substances”.
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