segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Hume e a teoria das probabilidades

Seria possível que a teoria do conhecimento e a teoria da moral humana em Hume se orientassem somente por uma teoria das probabilidades? De fato, para que fosse possível fundamentar assim seu pensamento, seria necessário implodir a distinção necessidade / contingência* do determinismo causal. A necessidade não seria uma série causal distinta das séries contingentes porque ela estaria debaixo da probabilística. Pensar na necessidade como categoria separada significa pensar no dever ser, significa acreditar que há um modus operandi ideal da sequência de acontecimentos, sejam eles naturais ou humanos, físicos ou mentais. Não existe, então, a necessidade como certeza e o resto; existe, sempre, possibilidades.
Isso, por um lado, dá um caráter provisório e suspenso a toda e qualquer existência, ao mundo e a toda e qualquer verdade. Mas, de maneira alguma, isso nos limita; há sempre um algo a se buscar dentro da esfera do possível. O possível é o conjunto do que vai acontecer e, para que algo aconteça, diversos fatores se sobrepõem e diversas condições a serem satisfeitas resultam em determinados eventos que a experiência mostra. Seja o sol nascer amanhã: um movimento de um corpo celeste, seja eu conseguir urinar: um movimento biológico meu. Há variáveis para que ambos os movimentos ocorram. Conhecemos todas? Hoje não. Conhecê-lo-emas? Não acreditamos. Porque nossa natureza somente permite determinados conhecimentos e o levantamento de algumas variáveis para que façamos com elas um diagnóstico presente e uma teoria das probabilidades do que poderá ocorrer e, assim, possamos nos mover no mundo.
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* A boutade de Charing-Cross, Gérard Lebrun 

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