quarta-feira, 22 de julho de 2015

Crença cética*

  Hume extermina qualquer relação de causa e efeito necessária. Expliquemos: nada garante que uma maçã ao se desprender de uma árvore cairá para baixo. Nada garante que o sol vai se por hoje e nascer amanhã - seja na orientação ptolomaica ou copernicana. Não há lei na natureza, a natureza é. Os fenômenos, os fatos se repetem ou não, enfim. Da mesma forma, não há uma relação de causa e efeito necessária entre nossas idéias, no nosso pensamento. Elas são. Cada uma, separadamente. Não há garantia de que o pensamento A leve ao pensamento B.

  De acordo com Hume, podemos estabelecer crenças que advém de fenômenos que se repetem, por exemplo, a crença que o sol vai se por hoje à noite. Só tenho essa crença porque isso aconteceu todos osa dias de minha vida, mas isso não está associado à minha racionalidade. Nada garante a correlação como necessária, os fatos e eventos estão apenas justapostos, sem lei.

  Estamos então dentro da abordagem cética: nada garante o que vai acontecer, ou seja: não somos videntes!! O que garante que o sol vai se por mais tarde? Uma lei da física? Da física de um nobre senhor chamado Copérnico? Ou Newton, ou Luís... Enfim, nada garante.

  Mas, então, como eu me movo no mundo, com que garantias? Sem elas, mas a partir de crenças que vamos selecionando, nas quais acreditamos mais ou as quais prometem um caminho mais longo. Como Hume: naquelas que nos marcam mais, que apresentam maior força e vivacidade. Recordemos o exemplo clássico: imagine um ET recém chegado na terra que avista uma jogada em uma partida de sinuca. O jogador move o taco em direção à bola... O que irá acontecer, como saber? A bola vai se mover? Para onde? Sabemos porque vemos e acreditamos, cremos, tem sempre uma primeira vez para aprendermos. Aprendemos X, depois Y, então pode ser que X se choque com Y e selecionamos, sem lei, sem raciocínio, sem necessidade: é puro gosto! E gosto não se discute, cada um com o seu.
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* Trazendo Hume de volta ao debate a partir de uma primeira leitura rápida do texto: "D. Hume para além da epistemologia" de Carlos Alberto Ribeiro de Moura.

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