- A economia da ciência
É objeto da
ciência substituir ou guardar experiências pela reprodução ou antecipação dos
fatos no pensamento. A memória é mais acessível do que a experiência e
frequentemente responde ao mesmo propósito.
A linguagem,
que é o instrumento de comunicação das instruções da ciência, é ela mesma um
aparelho econômico e a linguagem escrita está se transformando gradativamente
em um sinal universal ideal.
- Sensações
Outra
tendência econômica é que a reprodução de fatos no pensamento é invariavelmente
feita de abstrações.
A natureza é
composta de sensações como seus elementos e nela não existe coisa que não se
altere. O mundo não é composto de coisas como seus elementos, mas de cores,
tons, pressões, espaços, tempos que são as sensações individuais.
Na reprodução
dos fatos nós começamos com os compostos mais duráveis e familiares e depois
complementamos com as coisas mais incomuns por meio de correções. Todos os
nossos julgamentos são ampliações e correções de ideias já admitidas.
- Causa e efeito
Não há causa e
efeito na natureza; a natureza só tem uma existência individual; a natureza
simplesmente é. A conexão entre causa e efeito somente existe na abstração que
fazemos para reproduzir os fatos mentalmente. Basta um fato se torna familiar e
não pensamos mais na conexão de causa e efeito, nossa atenção se volta para
coisas novas.
Hume rejeita a
causalidade e reconhece somente uma sucessão habitual no tempo. Kant
corretamente notou que a conexão necessária entre A e B não poderia ser
descoberta pela simples observação. Ele assume uma ideia inata ou categoria da
mente, um conceito intelectual, sobre os quais os casos da experiência são
subordinados. Schopenhauer, que adota substancialmente a mesma posição,
distingue quatro formas do “princípio de razão suficiente”: física,
lógica e matemática e a lei de motivação. Mas essas formas diferem somente
quanto ao que são aplicadas, pertencendo à experiência interna ou externa.
As ideias de
causa e efeito brotam de um empenho da reprodução de fatos em pensamentos. Novas
experiências são iluminadas com base no acúmulo de experiências antigas. Como
um fato, então, realmente existe na mente uma ideia sobre a qual novas
experiências são subordinadas, mas a própria ideia foi ela mesma desenvolvida
da experiência. A noção de necessidade da conexão causal é, provavelmente,
criada pelos nossos movimentos voluntários no mundo e pelas mudanças que eles
indiretamente produzem, como Hume havia suposto, mas Schopenhauer contestou.
Muito das ideias de causa e efeito é devido ao fato que elas são desenvolvidas
instintivamente e involuntariamente, e esse senso de causalidade não é algo
individual, mas desenvolvido pela nossa raça. Causa e efeito são, portanto,
coisas do pensamento e tem uma função econômica. Não podemos dizer por que elas surgem. Pois é precisamente
pela abstração das uniformidades que nós conhecemos a questão por que.
- Ciências descritivas
As ciências
descritivas, por reconstruir uma grande quantidade de fatos, tentam agrupá-los em
uma expressão única. Na natureza não há lei de refração, somente casos
individuais de refração. A lei de refração é uma regra sucinta, inventada por
nós para a reconstrução mental de um fato, e somente para sua reconstrução em
parte, isto é, sobre seu aspecto geométrico.
- Matemática economiza energia mental
As ciências
mais economicamente desenvolvidas são aquelas que resumem fatos em um pequeno
número de elementos, como a mecânica que se baseia em espaço, tempo e massa. Ao
utilizar a matemática se aproveitam das noções de contagem, seja pelas
operações numéricas ou aritméticas, seja pelas reduções obtidas pela álgebra. A
matemática é o método de substituir, de maneira mais compreensiva e econômica
possível, novas operações numéricas por antigas que já tenham os resultados
conhecidos.
Frequentemente
operações envolvendo intenso esforço mental podem ser substituídas pela ação de
rotinas mecânicas, com grande ganho de tempo e evitando fadiga. Através de
operações matemáticas pode ocorrer um completo relaxamento da mente que pode
ser poupada para tarefas importantes. A ciência deve se aplicar em utilizar o
trabalho científico sempre que possível, evitando esforço mecânico dispendioso,
poupando energia.
- Física e economia mental
A física
também fornece exemplos dessa economia de pensamentos. No pequeno tempo de vida
do homem e com sua capacidade limitada de armazenar conhecimentos, o papel da
ciência é associar o menor numero possível de pensamentos que abarquem os fatos
possíveis, propiciando máximo de economia mental.
- Teoria e experiência
Assim, a função
da ciência é substituir a experiência, porém, a ciência não deve se ocupar de
questões onde não é possível nem uma confirmação nem uma refutação. A
comparação entre teoria e experiência deve ser prolongada mais e mais, na
medida em que se refinam os meios de observação. Somente a experiência desassociada
das ideias sempre será estranha para nós.
- Economizando as lacunas da experiência
Também é
importante utilizar as ideias para cobrir as lacunas que a experiência possa
deixar e, de acordo com ela, podemos associar ideias com sensações que não
podemos perceber.
- Artifícios mentais
Átomos não
podem ser percebidos pelas sensações; como todas as substâncias, eles são
coisas do pensamento. Além do mais, eles contradizem atributos que podem ser
observador nos corpos. Porém, algumas teorias atômicas podem ser usadas para
reproduzir certos grupos de fatos. A teoria atômica usada na física é similar a
certos conceitos matemáticos auxiliares; é um modelo matemático que facilita a
reprodução mental dos fatos.
- Economia na história
Todos que já
se utilizaram da investigação científica de alguma forma trabalharam com os
aspectos econômicos de fazer ciência, como Copérnico, Galileu e Newton, embora
não os mencionassem explicitamente.
- Adequação empírica
Dirigir a
atenção para um fenômeno individual: a adaptação das ideias aos fatos,
adaptação das ideias umas com as outras, economia mental.
Mesmo quando a
análise lógica de todas as ciências estiver completa, a investigação
biológico-psicológica do seu desenvolvimento continuará a ser uma necessidade. A
economia mental é, entretanto, independente disso, um ideal lógico muito claro
que preserva seu valor mesmo depois que toda a análise logica estiver completa.
A economia
mental supera o estudo escolar, podendo ser enraizada na vida da humanidade e
respondendo poderosamente sobre ela.
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* Resenha – texto “The
Science of Mechanics – A Critical & Historical Account of its Development” – Ernst Mach.
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