domingo, 5 de janeiro de 2025

Disputa de narrativas

Explora o modelo distribuído de disputa de narrativas no cérebro[i]

Dennett faz uma teoria empírica da consciência a partir do modelo cognitivo de pandemonium desenvolvido por Selfridge no MIT, em 1950. É um modelo de inteligência distribuída que permitiria reconhecer padrões mal definidos através de um conjunto de miniprogramas (demônios) sem um coordenador central, mas que deveria ser treinado para aprender e melhorar.

 Similarmente, no cérebro, dada sua plasticidade, haveria milhares de agentes produzindo versões que seriam escolhidas por um tipo de máquina virtual. Isso passa a sensação de uma narrativa, mas o que ocorre, de acordo com Dennett, é que circuitos especialistas trabalham em paralelo produzindo narrativas que ganham minutos de fama. “Conteúdos mentais conscientes tendem a se fixar por mais tempo na mente das pessoas e é por isso que Dennett afirma que a consciência mais se parece com a fama de quem com a televisão” (p. 74).

Skinner. Postulando que não há eu-central, Dennett se aproxima da visão epifenomenalista de Skinner de que o pensamento é um acompanhante do comportamento. Segue-se que não se pode falar de um ego concreto – isso incorreria em erro categorial. O ego é um constructo, um abstracta, conforme já vimos. Ambos também veem a natureza do pensamento associada à teoria da evolução, o próprio modelo de pandemônio seria um exemplo.

Calvin. A ideia de seleção natural intracerebral é oriunda do neurobiólogo William Calvin. Por ela, o cérebro cria uma representação do ambiente externo e gera possíveis cenários de ação que são, então, escolhidos pelo pensamento que emerge do comportamento reflexo. Isto é, não há um homúnculo no cérebro, como parece nos iludir, mas uma competição frenética de cenários que são selecionados pelo cérebro.

Memética. Porém, argumenta Teixeira, há conteúdos mentais que não são oriundos externamente, como linguagem e cultura, que não foram tratados por Calvin. De acordo com Dennett, eles são o software do cérebro e são tratados pelo conceito de meme[ii] que ele empresta de Dawkins. Memes são unidades de informação que são passadas de uma geração para outra, análogos aos genes físicos, e que se conectam com a comunidade formando memeplex, como, por exemplo a religião. Assim, o pensamento se difunde entre as pessoas, como doença contagiosa, sendo que a memética poderia até utilizar modelos de epidemiologia.

Objeções. Não obstante, Teixeira objeta que há dificuldade em definir ontologicamente o meme, considerando que as mentes são como centros de gravidade (abstracta[iii]) como hospedariam memes? Além disso, não podemos observá-los, como fazemos com os genes e daí a dificuldade em aprofundar a sua análise.



[i] Trecho I do segundo capítulo de A mente segundo Dennett, de, João de Fernandes Teixeira. São Paulo: Editora Perspectiva, 2008.

[ii] Haddad trata do termo em “O terceiro excluído”. Lemos, mas não tivemos compreensão suficiente para resenhar.

[iii] Problema do realismo que vimos aqui: https://www.reflexoesdofilosofo.blog.br/2024/10/comprimindo-sistemas-complexos.html. 

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