Explora o modelo distribuído de disputa de narrativas
no cérebro[i]
Dennett
faz uma teoria empírica da consciência a partir do modelo cognitivo de pandemonium
desenvolvido por Selfridge no MIT, em 1950. É um modelo de inteligência distribuída
que permitiria reconhecer padrões mal definidos através de um conjunto de
miniprogramas (demônios) sem um coordenador central, mas que deveria ser treinado
para aprender e melhorar.
Similarmente,
no cérebro, dada sua plasticidade, haveria milhares de agentes produzindo
versões que seriam escolhidas por um tipo de máquina virtual. Isso passa a sensação
de uma narrativa, mas o que ocorre, de acordo com Dennett, é que circuitos
especialistas trabalham em paralelo produzindo narrativas que ganham minutos de
fama. “Conteúdos mentais conscientes tendem a se fixar por mais tempo na mente
das pessoas e é por isso que Dennett afirma que a consciência mais se parece
com a fama de quem com a televisão” (p. 74).
Skinner. Postulando que
não há eu-central, Dennett se aproxima da visão epifenomenalista de Skinner de
que o pensamento é um acompanhante do comportamento. Segue-se que não se pode
falar de um ego concreto – isso incorreria em erro categorial. O ego é um
constructo, um abstracta, conforme já vimos. Ambos também veem a natureza do
pensamento associada à teoria da evolução, o próprio modelo de pandemônio seria
um exemplo.
Calvin. A ideia de seleção
natural intracerebral é oriunda do neurobiólogo William Calvin. Por ela, o
cérebro cria uma representação do ambiente externo e gera possíveis cenários de
ação que são, então, escolhidos pelo pensamento que emerge do comportamento
reflexo. Isto é, não há um homúnculo no cérebro, como parece nos iludir, mas
uma competição frenética de cenários que são selecionados pelo cérebro.
Memética. Porém, argumenta
Teixeira, há conteúdos mentais que não são oriundos externamente, como
linguagem e cultura, que não foram tratados por Calvin. De acordo com Dennett,
eles são o software do cérebro e são tratados pelo conceito de meme[ii] que ele empresta de
Dawkins. Memes são unidades de informação que são passadas de uma geração para
outra, análogos aos genes físicos, e que se conectam com a comunidade formando
memeplex, como, por exemplo a religião. Assim, o pensamento se difunde entre as
pessoas, como doença contagiosa, sendo que a memética poderia até utilizar
modelos de epidemiologia.
Objeções. Não obstante,
Teixeira objeta que há dificuldade em definir ontologicamente o meme,
considerando que as mentes são como centros de gravidade (abstracta[iii]) como hospedariam memes?
Além disso, não podemos observá-los, como fazemos com os genes e daí a dificuldade
em aprofundar a sua análise.
[i] Trecho I do segundo capítulo de A mente segundo Dennett, de, João de Fernandes
Teixeira. São Paulo: Editora Perspectiva, 2008.
[ii] Haddad trata do termo em “O
terceiro excluído”. Lemos, mas não tivemos compreensão suficiente para resenhar.
[iii] Problema do realismo que vimos aqui: https://www.reflexoesdofilosofo.blog.br/2024/10/comprimindo-sistemas-complexos.html.
Nenhum comentário:
Postar um comentário