Traz aspectos da classificação de Dennett para termos
intencionais[i]
Retomando a conceituação de Dennett para uma mente, cabe passar pela tese da
inescrutabilidade da referência.
Há um dado que é a dificuldade de explicar
uma mente, dada a sua complexidade. Já abordamos que, para Dennett, a mente é
uma construção teórica que utilizamos para a descrição do que ocorre no cérebro.
Nesse sentido, utilizamos o vocabulário da psicologia popular que atribui um
sistema internacional a organismos dito inteligentes. Porém, não há, no cérebro,
intenções, crenças e desejos, há somente neurônios, sinapses, tempestades
elétricas e coisas semelhantes.
Ora, para crenças, intenções e desejos há a
inescrutabilidade da referência, isto é, não conseguimos investigar a
referência de tais estados mentais porque há indeterminação da tradução de estados
mentais em estado celebrais. Dennett empresta a tese quineana da tradução
radical que postula que, ao utilizarmos a tradução de termos de outras línguas
para nossa pela observação do comportamento, podemos ter como resultado vários
manuais, pela falta de definição de critérios.
Lembremos
de gavagai: é um coelho, é comida ou é a orelha do coelho? A tradução usada pela
observação, e não pelo significado, torna a referência inescrutável. Entretanto,
isso não abala neurociência que tenta decifrar o código cerebral / neuronal.
Ela ganha força com avanços da biocomputação, com a capacidade de implantação
de nano chips no cérebro e técnicas de neuroimagem.
Ocorre que, por mais que haja sucesso em alguns
experimentos, Dennett jocosamente chamará esses cientistas de neurocriptógrafos
que buscam construir um cerebroscópio capaz de escanear nosso cérebro. Assim,
para descobrir se um suspeito é o criminoso, bastaria olhar seu cérebro[ii].
Por
fim, Teixeira apresenta a visão de Dennett para a folk psychology. Em um
primeiro momento destituindo-a de ontologia e sem papel causal sobre o corpo,
depois tratando-a instrumentalmente, como mera ilusão, o que o levou a ser
considerado um relativista. De fato, há dificuldade em se encontrar um lugar
para os termos intencionais dentro do cenário materialista. Mas a posição final
de Dennett será o meio termo entre instrumentalismo e realismo: os termos intencionais
serão classificados de “abstracta”, como por exemplo, um “batalhão de soldados”
ou “corpo diplomático”. É um realismo moderado. É como o centro de gravidade: artefato
teórico que existe, mas não é um objeto físico. Da mesma forma que crenças é
desejos.
Além disso e primordialmente, “abstracta”
nos permite identificar padrões de comportamento, encontrar regularidades
comportamentais por meios de algoritmos de compressão. Dada a enormidade de
padrões de comportamentos, podemos comprimi-los por meio de intenções, crenças
e desejos, podemos condensar sistemas complexos. São os abstracta que nos capacitam
a fazer previsões e sobreviver já que, no geral, não se vê aleatoriedade
absoluta na natureza.
[i] Finalizando
o primeiro capítulo de A mente segundo Dennett, de, João de Fernandes
Teixeira. São Paulo: Editora Perspectiva, 2008.
[ii] Mas não entraremos aqui nos detalhes da replicação de DNA, uma suposta versão biológica da máquina de Turing, e nem na argumentação de Siegfried contra a leitura cerebral.
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