Procura mostrar que uma teoria da mente se baseia na
capacidade de prever não somente nossas previsões, mas as dos outros seres
inteligentes[i]
Aprofundando um pouco mais a visão que
Dennett tem da mente, Teixeira o conceitua como uma antiplatonista, no sentido
de que não acredita na existência das ideias e entende a mente como uma interpretação
do que ocorre em nosso cérebro, se manifestando pelo comportamento. Essa visão
é fortemente influenciada pelo campo de estudo da inteligência artificial,
oriunda de Turing e acenando para a possibilidade do processamento inteligente em
máquinas.
Destaquemos dois pontos que Teixeira nos
traz: primeiro que o teste de Turing para atribuir estados mentais a máquinas
se vale da indiscernibilidade do comportamento linguístico e, depois, que é um
critério operacional, ou seja, não se debruça na natureza desses estados, mas
no seu funcionamento, seja de um organismo ou dispositivo[ii]. Se tal enfoque é prato
cheio para os behavioristas, Dennett não segue exatamente essa linha, mas captura
os estados mentais como termos teóricos que permitem falar do comportamento.
Citando Teixeira, à página 33:
“Desta
perspectiva, estados mentais como ‘intenções’, ‘crença’ e ‘desejos’ e todo o vocabulário
mentalista habitual que forma a psicologia popular (folk psychology) podem permanecer em um
limbo ontológico, ou seja, não precisamos atribuir-lhes realidade própria ou
independente dos olhos de quem observa o comportamento”.
Assim, a mente passa a ser somente uma
construção teórica útil e distante de uma visão de realidade mental que é, a
princípio, aceita por todos nós. Ora, o aparato conceitual que a psicologia usa
para tratar da mente é transformado por Dennett em um sistema intencional usado
para descrever algo dotado de uma mente. Ocorre que, para atribuir um sistema
intencional a algo, é preciso observar o seu comportamento para ver se é inteligente.
Então, interagimos com esse algo e tentamos predizer suas ações, se aparentam
serem racionais ou se se adaptam a novas situações, se são flexíveis.
Entretanto, dada nossa ignorância em não
podermos afirmar se há um correlato no cérebro, nos utilizamos do sistema
intencional. Por mais complexo que seja um dispositivo ou organismo, mais difícil
explicar seu comportamento sem renunciar a intenções e desejos, qual seja, uma
vida mental nos termos da psicologia popular. Psicologia essa que se vale dessa
estratégia preditiva tão preponderante em nossos, humanos, que somos capazes crer,
conhecer e assim por diante., a nós mesmos e aos outros.
Há, fundamentalmente, um desenvolvimento
de um modelo mental do outro, como em um jogo de xadrez, em que se tenta sempre
prever e a previsão do outro. Nossa inteligência funciona antecipando experiências
que ocorrerão e de que forma agiremos, conforme ressalta Teixeira, recobrindo
uma inteligência maquiavélica que origina a psicologia popular que nos permite
sobreviver.
Teixeira também destaca que é necessário
que ao menos outra mente para a postulação de um sistema intencional, assim
como a linguagem requer dois falantes. Ele traz a teoria de neurônios espelhos
que seriam ativados quando atribuímos estados mentais a outrem e, daí, o
correlato neural para a teoria da mente[iii].
Por fim para esse momento, Teixeira caracteriza
o campo de estudo da inteligência maquiavélica e psicologia popular como habilitar
da disciplina de inteligência artificial social, ciência deveras complexa para
dar conta de robôs que interagem com humanos. Seus estudiosos esperam que, um
dia, robôs participem da vida social e sociologia permitirá que simulações sejam
feitas para verificar o comportamento desses agentes.
[i] Iniciando capítulo I de A mente
segundo Dennett, de, João de Fernandes Teixeira. São Paulo: Editora
Perspectiva, 2008.
[ii] Teixeira levanta desafios ao teste
de Turing como, por exemplo, uma limitação temporal, já que programas de computador
tem que ser finitos e decidíveis.
[iii] Tema que deve ser explorado oportunamente.
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