sexta-feira, 31 de maio de 2024

Me da o contexto

Nossas investigações se encontram em uma situação na qual há uma linguagem que é usada para nos comunicarmos, mas não sabemos ao certo o que é compreendido nas interações entre falantes e ouvintes. Na base dessa linguagem há termos que devem ser entendidos pelos envolvidos, isto é, há termos com significado e eles se combinam para formar frases e períodos maiores que expressam grandes pensamentos.

Porém, o fato de haver significado em um termo ou em expressões linguísticas não quer dizer que, para cada um deles, o significado é único ou que ele é interpretado da mesma forma pelos emissores e receptores, isto é, pelos participantes de uma conversa ou aqueles a ela associados.

Nós podemos, então, caracterizar uma conversa como um recorte de uso da linguagem por aqueles que estão a ela associados. A conversa se dá pela interação entre os associados e, fundamentalmente, por um contexto compartilhado, porque se não há esse contexto no qual todos se inserem, já se pode considerar que o elo interpretativo está quebrado.

Delimitando esses elementos principais: a conversa, o contexto e os associados, ao pensarmos em uma ordem de precedência entre eles já poderíamos contribuir com uma possibilidade de esclarecimento da viabilidade da comunicação no que tange à compreensão[i]. Mas, saber esses elementos são suficientes é ponto para verificação.

De toda forma, o significado é condição sine qua non para a compreensão, mas a mola mostra é saber até que ponto ele deve estar fixado. O significado pode se confundir como uma “entidade” que emerge da conversa, como se referindo a algo ou como basicamente uma coisa inerente à própria linguagem.

É aqui que nossa análise dá um salto: partirmos das condições pelas quais uma comunicação ocorre, que é a união de associados em torno de conversa que tem um contexto, para que possamos investigar de que modo a compreensão se dá, como o significado é entendido. E delimitamos os três caminhos citados acima.

De fato, não são três, mas dois caminhos: um que o significado é “algo”, outro que o significado se confunde com a própria linguagem, com as regras de uso da linguagem. Podemos chamar a primeira abordagem de metafísica por ter que tratar do algo, já a segunda é a abordagem gramatical de Wittgenstein, sendo que ela é fortemente dependente do contexto, mas muito dinâmica e, de acordo com Kripke, não garantidor.

Nós queremos fazer uma análise da linguagem que não caia em armadilhas metafísicas e concordar com Wittgenstein na análise dos usos da linguagem; o que algo significa é dado por seu uso e fortemente marcado pelo contexto. Ocorre que Kripke pontua que o contexto não pode garantir o uso porque, dada a variância do contexto, haveria uma “livre interpretação” do significado.

Aí haveria uma dificuldade de concordância e voltamos ao princípio. Embora essa flexibilidade não seja de todo ruim. Por outro lado, um mínimo de explicabilidade é importante para resolver as disputas, mesmo aquelas da vida ordinária.



[i] Sobre esses termos, em 19 de maio de 24 o ChatGPT-4o nos responde assim: “Comunicação é o processo de transmitir informações, ideias ou sentimentos entre pessoas. Compreensão é o entendimento ou a interpretação correta dessas informações, ideias ou sentimentos recebidos. Em resumo, comunicar é enviar uma mensagem; compreender é decodificar e entender essa mensagem.” 

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