Tenta argumentar que muitas árvores existentes não existem[ii]
Árvores para elas mesmas.
Há uma distância limítrofe a partir da qual deixamos de ver uma árvore que porventura
estamos vendo agora. Quando nossa visão não a capta mais, ela deixa de existir
para nós, embora possa haver outros campos de visão para os quais a árvore se
apresenta (ou existe). Agora imaginemos uma árvore que nunca foi vista por ninguém.
Podemos dizer que esta árvore nunca existiu para ninguém, mas poderíamos
dizer que essa árvore nunca existiu? Ou que ela não existe? E uma árvore jamais
vista e que já morreu, ela existiu? De ambas não temos notícias, elas nunca foram
referidas por ninguém. Então, elas somente existem ou existiram para elas
mesmas.
Árvores para nós.
Ocorre que elas-existirem-para-elas-mesmas somente é possível se algum de nós
está aqui. Isso porque “ver”, embora de muito seres, é humano. Ter
olhos, embora de muito seres, também é humano. Isto é, os nomes, os
conceitos e essa linguagem que usamos para descrever o mundo e as coisas são
humanos, já que outros animais veem, mas não sabem que veem ou não sabem o que
é ver. Mas, se supusermos o mundo sem a espécie humana ou algum outro
tipo de espécie capaz de conceituar o mundo e as coisas seja lá de que forma, não
poderíamos dizer que o mundo existiria, e suas árvores, já que “existir” e
“mundo” são expressões humanas.
Falsos problemas.
Isso posto há dois problemas que são falsos problemas: uma árvore que, jamais vista,
morre e uma árvore que vive sem a existência da espécie humana. No primeiro
caso, não podemos dizer que ela morreu porque jamais foi vista, não se sabe de
sua existência. Não poderíamos falar dela. Já no segundo caso, poderia
até haver uma árvore nesse mundo, mas não sabemos se haveria coisas como “árvore”,
“mundo” e “existir”. Não haveria alguém para falar dela.
Árvores existentes.
Por outro lado, quando vemos uma árvore, podemos notar claramente que ela tem
uma consistência, ela é material. Isso quer dizer que não duvidamos que haja
mundo, mas há um mundo que categorizamos no limite de nosso entendimento e linguagem.
Inclusive, se fosse possível catalogar as moléculas de oxigênio por sua origem,
poderíamos saber da existência de determinada árvore, que expeliu aquele gás oxigênio
por seu processo fotossintético, sem nunca a ter visto, embora a partir de uma
evidência passível de ser checada por nós e, sendo assim, ainda seria uma árvore
para um humano. Ou mesmo pelo mapeamento dos resíduos de sua decomposição.
Conclusão.
Do que foi dito, concluímos por uma simbiose temporal, isto é, enquanto houver
uma árvore que é vista por alguém, se pode falar. A partir do momento em que,
ou não haja alguém ou nenhuma árvore, nada poderá ser dito. Qualquer conceituação
que escape a essa temporalidade é quimérica. Essa simbiose é tão forte que necessariamente
só se fala do concreto e enquanto ele durar e por meio de conceitos que não
passem disso, sejam eles abstratos, porque vazios de conteúdo, transcendentes,
isto é, que se permitam ir além da simbiose ou imanentes, possivelmente
propalando um tempo eterno.
[i] O uso das aspas indica que não estamos
falando do fato em si, mas da expressão linguística. Ver “Conceitos” em https://www.reflexoesdofilosofo.blog.br/2022/11/introducao-ao-significado.html.
[ii] Eu já tentei fazer filosofia por minhas próprias mãos, filosofia raiz, de boteco, aqui e eventualmente em alguma avaliação escolar, mas sempre fui malsucedido.
Essas idéias são similares às de Berkeley. De toda sorte, eu já superei o realismo ingênuo que acredita na realidade pura e simples dos objetos. Eu já estou na dicotomia realidade x aparência.
ResponderExcluirPonto 2, parece que, para Berkeley, as coisas continuariam a existir, se nós não existíssemos, porque existiria Deus
ResponderExcluirDaí o ceticismo, só há conhecimento sensível de aparências, nos salvaguardaríamos pelo intelecto num polo bem distante da realidade oculta
ResponderExcluir(sobre a dicotomia)
ExcluirSabemos como os objetos aparecem, não o que são..
ResponderExcluirEstou usando aqui
ResponderExcluirDissertação de Mestrado em Filosofia:
Berkeley e o Ceticismo, Mestrando:Jaimir Conte, Orientador: Prof. Dr. Marco Antonio Frangiotti
É porque digamos um cavalo pode perceber uma árvore mas não pode falar dela. Pra mim, perceber é pré científico
ResponderExcluirA relatividade enfatizada pelos pirrônicos leva a uma incerteza sobre a possibilidade do conhecimento
ResponderExcluirRelatividade perceptiva*
ResponderExcluirSexto Empírico: ser e parecer.
ResponderExcluirQue o mel é doce
É coisa que eu
Me nego afirmar
Mas que parece doce
Isso eu afirmo plenamente!
Raul Seixas
Bem, isso tudo mostra a dificuldade do realismo ingênuo pelo qual vemos diretamente o que as coisas são, sem levar em conta nossa subjetividade. Mas, a realidade pode ser distinta!
ResponderExcluirNa esteira do cartesianismo, há o ceticismo ontológico que carece de argumentos para explicar que existe mundo e o epistemológico que não explica qual sua natureza
ResponderExcluirDe acordo com Strawson, o cético não nega que tenhamos crenças, mas procura sabermos se são certas.
ResponderExcluirSaber*
ExcluirÉ o pirronismo que diz que não conhecemos o objeto como é, então não temos nada com que comparar do que percebemos
ResponderExcluirPara Descartes, dados dos sentidos ou qualidades secundárias não estão nas coisas e nada dizem sobre sua realidade ou essência material
ResponderExcluirMas Descartes sustenta a existência objetiva e real da matéria: res extensa e também res extensa, além do cogito e Deus
ResponderExcluirExtensão, mente e Deus
ExcluirOcorre que, para Descartes, há o dualismo mundo x mente, essa última com representações de objetos e Deus garantindo..
ResponderExcluirJá Malebranche, por acreditar que nossa mente é finita e incapaz de conhecer as coisas, creditava nosso conhecimento do mundo à fé
ResponderExcluirMalebranche acreditava que o cartesianismo era incapaz de se livrar do ceticismo pirrônico.
ResponderExcluirMas Malebranche aceitou a divisão das qualidades primárias (extensão, da coisa) e secundárias (dos sentidos) e Bayle não em seu Dictionaire historique et critique
ResponderExcluirOra, TODAS as qualidades são mera aparências.. Abriu-se uma lacuna e não haveria prova da existência de corpos. Ele nega a realidade dos objetos da percepção e pirroniza toda a filosofia
ResponderExcluirAssim ele supera o novo ceticismo de Descartes e Locke, e postula que o mundo real é incognoscível
ResponderExcluirPara Bayle, se não há realidade das qualidades corpóreas, não há realidade da extensão
ResponderExcluirA mecânica newtoniana se baseava nas propriedades primárias dos corpos enquanto que nós percebíamos qualidades secundárias
ResponderExcluirPara Galileu, as propriedades primárias existem fora da mente e são inerentes aos corpos, mas atribuídas a eles pela razão
ResponderExcluirOlha que citação legal que o Jaimir faz do Galileu: "Para ele, as
ResponderExcluirqualidades secundárias, “sem os animais vivos” nada são a não ser nomes"
Conhecimento verdadeiro? Só de qualidades primárias :/
ResponderExcluirNa filosofia corpuscular de Boyle o mundo é feito de corpúsculos insensíveis constituídos de princípios mecânicos cuja interações produzem em nós sensações
ResponderExcluirLocke também une a metafísica cartesiana e a filosofia natural e as qualidades secundárias se mantêm no campo da relatividade perceptiva. Interessante que ele compara a qualidade secundária com a dor, por exemplo, fogo que queima, para mostrar que está em nós
ResponderExcluirContra o realismo ingênuo cabe retomar os pontos de Enesidemo, Sexto Empírico, Pirro e Agripa.
ResponderExcluirBerkeley situa a crítica cética na imperfeição de nossos sentidos e incapacidade de atingir essências
ResponderExcluirO que nossos sentidos não abarcam é uma suposta causa que toda coisa tem em sua interioridade de produzir qualidades
ResponderExcluirA teoria da percepção representativa ou doutrina do véu da percepção se opõe ao realismo ingênuo
ResponderExcluirPara Berkeley, o materialismo está implicado com o ceticismo acerca dos sentidos
ResponderExcluirNo representacionalismo, uma ideia representa ou está conectada diretamente com uma substância material fora da mente
ResponderExcluirPela TPR percebemos objetos MEDIANTE ideias ou dados dos sentidos
ResponderExcluirPela TPR, então, conhecemos indiretamente - não há os problemas do realismo ingênuo
ResponderExcluirRealismo ingênuo: mente-objeto, TPR: mente-experiência sensorial-objeto
ResponderExcluirÉ a experiência sensorial que o cético pega para atacar o conhecimento, há um mundo lá fora e nosso mundo de ideias, há um hiato
ResponderExcluirMas Berkeley iguala a ideia ao objeto percebido e argumenta que o ceticismo agrega problemas
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