Entre
o objeto, a ostensão, o Sinn e o uso
É interessante notar a proximidade do
indexical com o mundo. Sua primazia pode ser ressaltada com o demonstrativo
“esse” que, acompanhado do gesto de ostensão, toca a realidade. Quando dizemos
“essa pessoa” apontando para ela, não resta dúvidas: ela está lá. E isso
comunica muito mais do que dizer “a pessoa que está lá” ou a pessoa X (descrição
definida e nome próprio, respectivamente)[i].
Contudo, essa pretensão de certeza trava a linguagem porque fixa o sentido. Por um lado, “essa pessoa” é “essa pessoa”, pessoa concreta, embora essa coisa “essa pessoa” possa trazer significados diversos. Por outro lado, “essa pessoa” é uma formulação universal porque eu só poderia falar daquela pessoa usando o “essa” (demonstrativo) “pessoa” (objeto). Quando a linguagem toca a realidade ela vira uma passagem, não deixa “pegar um sentido”. Só que há vários, várias sintaxes.
* * * * *
Eu concluí um fluxo similar ao seguinte,
das primeiras palavras de CC no Cognitivismo[ii]:
“objeto” [uma pessoa] <= “indexical” [essa pessoa] (está pertinho) <= “descrição
definida” [a moradora do apto 23] (comunica algo) <= “nome próprio” [Maria]
(indistinto).
Já Wittgenstein, sobre
demonstrativos: “O demonstrativo “este” nunca pode ficar sem portador. Poderíamos
dizer: “Enquanto houver um este, a palavra ‘este’ tem significado, seja este
simples ou composto”. – Isso, contudo, claramente não faz dessa palavra um
nome. Ao contrário; pois um nome não é utilizado com um gesto ostensivo, mas apenas
explicado por ele.”[iii]
E sobre nomes e descrições: “Nomear e descrever
não estão, de fato, em um mesmo plano: O nomear é uma preparação para a
descrição. O nomear ainda não é, de modo algum, um lance no jogo da linguagem,
- assim como colocar uma peça de xadrez sobre o tabuleiro ainda não é um lance
no xadrez. Pode-se dizer: Com a nomeação de uma coisa ainda não foi feito nada.
Aliás, ela não tem um nome, a não ser no jogo. Eis também o que Frege
queria dizer ao afirmar que uma palavra tem significado apenas no contexto da
frase”[iv]
O mais interessante é que, pelas Investigações,
minha pergunta de praxe: “Eu falo e você me escuta, mas entende?” teria uma
resposta em aberto, variando entre sim e não, a depender do contexto e demais envoltórios.
[i] Se existir algo lá.
[ii] COSTA, C. Cognitivismo
Semântico: Filosofia Da Linguagem Sob Nova Chave. Curitiba: Editora Appris,
2022.
[iii] Investigações Filosóficas. Ludwig
Wittgenstein. São Paulo: Fósforo, 2022. Sessão 45, p. 54.
[iv] Idem. Sessão 49, p. 58.
É nesse último sentido que podemos entender o solipsismo quando falamos e não somos entendidos, por isso o esforço na comunicação
ResponderExcluir