Introdução e os principais pontos de Linguagem e Verdade[i]
Pettersen inicia a aula com uma citação de Palavra e Objeto (1960), da p. 13, que trata da linguagem como arte social, construída intersubjetivamente e cujo significado provém do que é expresso e observável. Ou seja, a linguagem é pública e mesmo a filosofia se expressa nessa linguagem, na forma como falamos e que a molda, e que também molda as possibilidades de refletir, de negar, etc. A filosofia depende da língua falada e da linguagem como ordenadora do pensamento, conforme ressalta Pettersen, o que vai contra uma ideia de filosofia universal. A questão da intersubjetividade ressalta que somos pautados pelos interlocutores e dentro de um contexto cuja chave de leitura / tradução deve ser dada para que nosso pensamento se torne acessível.
Segundo Pettersen, Quine pretende
responder como entender o pensamento de um grupo completamente distinto do
nosso e que se expressa em uma linguagem que não conhecemos, no que se chama
tradução radical. Ele verifica a radicalidade do pensamento e de como ele está
expresso em uma língua.
Resumidamente, o que veremos aqui é o primeiro capítulo, no qual Quine passa do como aprendemos a linguagem até o discurso científico, apoiando-se em dois princípios: o empirismo, que é fonte de evidência e o behaviorismo. Já no segundo capítulo, em uma próxima resenha, Quine veremos o argumento da tradução radical, ou seja, de como comunicar o discurso para outra pessoa, da qual não temos conhecimento prévio.
Então, o capítulo 1, cujo título é Linguagem e
Verdade, já mostra a busca de Quine por proposições verdadeiras. Ele parte
do conhecimento empírico por meio de nossa superfície sensorial e, aí, começa o
processo de entificação, bem como o aprendizado da linguagem por observações da
pronuncia alheia. E esse empirismo, de acordo com Pettersen, é um antidoto ao
relativismo ou incerteza e, sendo base do conhecimento, é fundante da linguagem
comum e da ciência, que é evolução autoconsciente do senso comum (e também a filosofia
como continuação da ciência). Se a linguagem depende do contexto, conforme
Wittgenstein, Quine acrescenta que é necessária uma fonte de validação.
Já sobre o behaviorismo, um “ai” pode ser
aprendido pela sociedade como dor e, nesse caso, gera uma recompensa de nossa
parte ou se percebemos um blefe, por exemplo, pode ocorrer penalização. Lembremos
do reflexo condicionado de Pavlov[ii] com seu cão – aprendizado
por repetição e Skinner que baseia a tese de comportamento humano no
behaviorismo, sendo seguido por Quine.
Isso posto, há uma triangulação (professor-texto-aluno)
para que o aprendizado ocorra, há três aspectos:
1. Do
ponto de vista do aluno, ele percebe as coisas do mundo de maneira similar (empírico).
2. As coisas também são similares do ponto de vista do aluno e do professor (intersubjetivo).
3. Professor
possa corrige e incentiva o aluno (recompensa-punição).
Entretanto, há uma uniformidade linguística,
já que a forma externa do falar é igual, embora a parte interna de cada um, do
aprendizado, seja diversa[iii]. Quer dizer, temos a
mesma percepção de mundo. E vamos aprendendo a partir de palavras simples, que
são unidades, que depois vão se juntando em frases mais complexas. Então,
frases mais longas são feitas de fragmentos, alguns já aprendidos e outros que
vão sendo aprendidos e testados, verificados. Já o aprendizado por ostensão[iv] necessita de conhecimento
de fundo, de entender o sinal, etc. Se o padrão de condicionamento varia entre
cada pessoa, há pontos de congruência em geral.
Ora, se o caminho de aprendizado da linguagem
comum é aquele experimental, por que o da filosofia não seria? Bem, para Quine
aprendemos a linguagem a partir de frases inteiras, contextualmente ou por analogia
ou, por fim, por descrição. Isto é, aprender uma linguagem é aprender uma teoria
sobre como o mundo é. A língua portuguesa nos dá uma visão de mundo, assim
como outras línguas dão visões de mundo diferentes. A visão de mundo depende do
conhecimento prévio, mesmo entre pessoas da mesma língua de acordo com suas
vivências.
Quine pontua que há aspectos da linguagem que estão afastados da experiência[v], mas as porções ligadas ao mundo nos permitem entrar no campo da linguagem, nos comunicar e atingir a objetividade necessária. A partir daí, toda a linguagem deve ser organizada em nossa teoria do mundo, da mesma forma que um cientista, com simplicidade (organizar o conhecimento da maneira mais simples e, aqui, Pettersen lembra da navalha de Ockham), familiaridade, que é: explicar novas questões a partir das velhas leis familiares de nossa visão de mundo e, por fim, a razão suficiente, que se dá por meio de uma explicação racional, conforme herança de Leibniz, informa Pettersen.
Por fim, Quine ressalta que não reduziu sua ambição de modo que caia em uma doutrina relativista, mas continua dentro de uma teoria de mundo particular baseada nas crenças do momento e, com o uso do método científico, aperfeiçoando e sendo capaz de julgar a verdade seriamente, com as devidas correções que sempre hão de se fazerem necessárias. Se a melhor ferramenta que temos para falar sobre o mundo natural é a ciência e a que traz as melhores evidências de explicação, sigamos com o vínculo empirismo.
[i] Resenha de Quine - Capítulo I de Palavra e Objeto,
disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=u-n_XW40_5s, https://www.youtube.com/watch?v=E3ClMyjcpkU e https://www.youtube.com/watch?v=elL_xRAeRrw. Prof. Bruno
Pettersen.
[iii] As árvores possuem as mesmas formas, vistas de longe, mas os galhos internos são diferentes.
[iv] Ato ou efeito de mostrar, https://www.dicio.com.br/ostensao/.
[v] Em Hume todo conhecimento vinha da experiência, no esquema impressão-ideia, o que não é o caso de Quine que trabalha no campo da linguagem, conforme nota da aula.
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