O sangue bravamente derramado muitas vezes não é honrado. A revolução dos bichos[1] é a
estória de uma revolução para pior. Se, no início, homens e bichos se diferenciavam
pela natureza - e aí talvez fizesse sentido os animais serem espoliados, quando
os bichos tomam o poder dos homens e se instaura uma possibilidade clara de
socialização, nesse momento floresce nova tirania e mais avassaladora. A revolução dos bichos é uma
estória que mostra como o poder estabelecido se desenvolve de forma a instituir
leis injustas, conceder privilégios para a casta dominante, ceifar direitos e
transformar verdades através da manipulação e intimidação, deteriorando as
condições de vida.
O
sonho da revolução promete liberdade e igualdade e a luta por ela vale a vida.
Os porcos, líderes intelectuais que a semeiam e conduzem, rechaçam os vícios e
pregam uma vida frugal, são os porcos que no poder veneram o luxo e cedem ao
conforto herdado dos humanos. Porcos corrompidos pelo progresso que superam os
humanos: a fazenda governada pelos bichos explora mais os bichos e produz mais.
Seria o fruto da experiência de ser bicho e saber como domesticar e admoestar
os semelhantes? Mais do que isso, é ainda o sabor da experiência humana: os porcos
passam a andar em duas pernas e mudam o lema da revolução que era “quatro pernas bom,
duas pernas ruim” para o lema do governo “quatro pernas bom, duas pernas melhor” repetido pelos bichos desconfiadamente
não acreditando que esse era o lema anterior. Trabalho e vida frugal, não para
os porcos.
A
revolução dos bichos mostra as armadilhas que o discurso político pode trazer. A
revolução dos bichos não é uma ode contra a revolução, ao contrário, é uma ode
contra o poder estabelecido que de um jeito ou de outro se perpetua no novo. Esse
lugar marcado do poder deve ser combatido e exterminado, se a revolução quiser
ser gloriosa. De outra forma, nada mudará.
(*) Da série Revisando as notas das aulas da escola – voltamos ao 2º Semestre de 2015 e uma proposta muita interessante de análise filosófica de textos literários na disciplina de Introdução aos Estudos da Educação: Enfoque Filosófico.
[1] ORWELL, G. A revolução dos bichos. Tradução de Heitor Aquino Ferreira. Rio de Janeiro: O Globo; São Paulo: Folha de S. Paulo, 2003.
[1] ORWELL, G. A revolução dos bichos. Tradução de Heitor Aquino Ferreira. Rio de Janeiro: O Globo; São Paulo: Folha de S. Paulo, 2003.
Nenhum comentário:
Postar um comentário