Existe uma liberdade política e uma
liberdade da vontade[1]. A última é aquela baseada
na racionalidade (ou falta dela) e é teórica, enquanto parte de uma
possibilidade do conhecimento e da ação e mesmo da rastreabilidade ou
prioridade de nossas faculdades sensíveis ou cerebrais/mentais. Por isso, ela
requer uma teoria científica (ou filosófica) desde que bem embasada. A
teoria kantiana da razão teórica pura permitiu tal liberdade, mas que virou lei
para a prática. Um crítico kantiano, Schopenhauer, rebateu argumentando que
essa lei carece de fundamento e o que nos move são leis motivacionais. Testes
laboratoriais recentes mostraram que a nossa ação pode ser fruto de uma vontade
inconsciente, que apareceria depois do fato, como resultado. De todo modo, há
ainda um campo amplo favorável à autonomia. Tudo isso é muito positivo e
promete resultado, porém gostaríamos de tratar da liberdade política, aquela
dos efeitos e da práxis.
Essa liberdade concreta, determinada
por forças concorrentes aparentes, reais, inconscientes ou ocultas, é mola
mestra no dia a dia e é ela que permite a convivência humana e o
desenvolvimento de uma sociedade mais justa. Ou seja, há fatores interferindo na
nossa ação e cada ação nossa interfere nas dos demais. Diante disso, o pilar
dessa responsabilidade é o respeito para com o outro para que ele possa
realizar livre de coação. A brincadeira característica da conduta cultural
brasileira, o sorriso e a piada, resumindo: a zoeira tem limite difícil de ser
calculado. O homem camaleão de si e do outro age buscando um fim; age por um
comportamento arraigado para a ação ou paralisia, mas a última não podemos tolerar.
Vis a vis, unanimemente o mundo é
capitalista e por trás do sorriso e do aperto de mão há uma luta pela
sobrevivência, pela preservação e pelo conforto. A estrutura capitalista tão
presente e invisível nos oprime (ação que não vemos) e nos sacia (efeito do
consumo e do poder aquisitivo). Então, o ser humano, mambembe, se equilibra
entre um bate e assopra e procura, ao recostar a cabeça no travesseiro, ter a
consciência limpa. Ele pode ter, mas sempre haverá uma pedra no sapato: o mundo
obviamente injusto que não lutamos para mudar e que nos esforçamos por manter.
[1] Conforme bem destacou o professor Osvaldo Pessoa em sua aula pública no CAF.
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