sábado, 9 de janeiro de 2016

Estruturas inconscientes transcendentes que determinam o homem*

O estruturalismo parte de uma redefinição das ciências humanas colocando a linguística em seu centro: é questão de método tratar a linguagem como sistema diferencial opositivo de fonemas que se especificam reciprocamente em relações. A linguística, então, seria um modelo epistemológico em que a linguagem é condição de todo e qualquer fato social ou psíquico; os fenômenos observáveis resultariam de leis gerais, mas ocultas.

O problema do inconsciente

A estrutura, então, determinaria de maneira transcendente o campo fenomenal, onde seus atores agiriam de forma inconsciente: falar sem ter consciência da estrutura dos fonemas, casar sem se atinar para as relações de parentesco omitidas pelo matrimônio. Seriam as estruturas que dariam sentido, os homens apenas ocupariam os lugares nelas e a verdadeira relação deles seria com a estrutura, não com os outros homens (ou seja, os homens seriam determinados e mediados pelas estruturas). O sujeito seria uma construção ideológica ou ilusão metafísica e não agiria, mas seria agido pelas estruturas sociais; o que determinaria o sujeito se daria no nível do pensamento inconsciente. Mesmo se eu quisesse tomar consciência enquanto falo, ainda assim eu falaria por uma perspectiva determinada pela própria estrutura (em relação a ela e não sem ela...). O inconsciente, para Lacan, era o sistema de regras e leis anteriores à consciência, ele seria vazio e  não um que se serviria de eventos passados que seriam conteúdos mentais não acessíveis atualmente à consciência (inconsciente sem acesso aos conteúdos mentais da consciência). Por essa noção de inconsciente devemos admitir que haveriam processos não acessíveis à consciência porque ela não teria condições de os representar, do que Deleuze dirá que a estrutura é uma multiplicidade de séries nem todas representáveis.

O problema do transcendental

Em Saussure, a linguagem assume caráter transcendental como condição de existência, como lei geral de fatos linguísticos e sua essência, adquirindo caráter de objeto dotado de realidade própria independente de qualquer sujeito: o Kantismo sem sujeito transcendental. Mas como se daria a gênese desse objeto transcendental? Na verdade, ele seria constituído pela estrutura e, de qualquer modo, se valeria de uma função simbólica que estruturaria o universo dos possíveis. E, nessa origem, haveria um excesso de significantes, onde apareceria o elemento paradoxal: nossa conhecida casa vazia (ver Como reconhecer o estruturalismo?). A partir dela, Deleuze questionará o estatuto do sujeito no Anti-Édipo, que não será uma substância auto idêntica, mas causado pela circulação da casa vazia na estrutura, sujeito sem individualidade (mas com particularidades moleculares) e com o desejo marcado por esse objeto.


(*) Aula 2 de Capitalismo e Esquizofrenia, prof. Vladimir Safatle, curso de Teoria das Ciência Humanas III, alguns conceitos.

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