O estruturalismo
parte de uma redefinição das ciências humanas colocando a linguística em seu
centro: é questão de método tratar a linguagem como sistema
diferencial opositivo de fonemas que se especificam reciprocamente em relações.
A linguística, então, seria um modelo epistemológico em que a linguagem é condição de
todo e qualquer fato social ou psíquico; os fenômenos observáveis
resultariam de leis gerais, mas ocultas.
O
problema do inconsciente
A
estrutura, então, determinaria de maneira transcendente o campo fenomenal, onde
seus atores agiriam de forma inconsciente: falar sem ter consciência da
estrutura dos fonemas, casar sem se atinar para as relações de parentesco omitidas
pelo matrimônio. Seriam as estruturas que dariam sentido, os homens apenas ocupariam os lugares nelas e a verdadeira relação deles seria com a estrutura, não com os outros homens (ou seja, os homens seriam determinados e mediados pelas estruturas). O sujeito seria
uma construção ideológica ou ilusão metafísica e não agiria, mas seria agido pelas
estruturas sociais; o que determinaria o sujeito se daria no nível do pensamento inconsciente.
Mesmo se eu quisesse tomar consciência enquanto falo, ainda assim eu falaria por uma
perspectiva determinada pela própria estrutura (em relação a ela e não sem ela...). O inconsciente, para Lacan,
era o sistema de regras e leis anteriores à consciência, ele seria vazio e não um que
se serviria de eventos passados que seriam conteúdos mentais não acessíveis
atualmente à consciência (inconsciente sem acesso aos conteúdos mentais da consciência). Por essa noção de inconsciente devemos admitir que haveriam processos não acessíveis à consciência porque ela não teria condições de os representar, do que Deleuze
dirá que a estrutura é uma multiplicidade de séries nem todas representáveis.
O
problema do transcendental
Em
Saussure, a linguagem assume caráter transcendental como condição de existência, como lei geral de fatos linguísticos e sua essência, adquirindo caráter de objeto
dotado de realidade própria independente de qualquer sujeito: o Kantismo sem
sujeito transcendental. Mas como se daria a gênese desse objeto transcendental? Na
verdade, ele seria constituído pela estrutura e, de qualquer modo, se valeria de uma função
simbólica que estruturaria o universo dos possíveis. E, nessa origem, haveria um
excesso de significantes, onde apareceria o elemento paradoxal: nossa conhecida
casa vazia (ver Como reconhecer o estruturalismo?). A partir dela, Deleuze questionará o estatuto do sujeito no
Anti-Édipo, que não será uma substância auto idêntica, mas causado pela
circulação da casa vazia na estrutura, sujeito sem individualidade (mas com particularidades moleculares) e com o
desejo marcado por esse objeto.
(*) Aula 2 de Capitalismo e Esquizofrenia, prof. Vladimir Safatle, curso de Teoria das Ciência Humanas III, alguns conceitos.
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