segunda-feira, 3 de julho de 2023

Representação e Correspondência

Aborda a superfície de dois temas controversos: a representação mental da realidade e a sua correspondência com o mundo[i]

O primeiro ponto que gostaríamos de tocar é o da representação, quando tida como esboço mental da realidade. É mais ou menos como se fosse uma mente vazia que aponta para fora (Sartre) ou uma mente que espelha o mundo (Descartes, Kant), com os segundos valorizando uma concepção egóica. Ao tratar do conteúdo semântico das proposições, Costa defende o espelhamento dos dados do mundo com a consciência pensando, por meio dos dados-dos-sentidos.[ii] O mais interessante é que ele o faz trazendo evidências científicas de exames de imagem do cérebro (BOLD fMRI)[iii]. Ora, seria possível mapear os “sense-data” em nosso cérebro e são os seus conteúdos semânticos que são por nós partilhados com os demais por analogia, evitando-se também, assim, o solipsismo.

A correspondência, algo também deveras controverso, marca muito essa relação linguagem-mundo, mente-linguagem-mundo e, nesse contexto, Costa defende os fatos como “os fazedores-de-verdade universais”. Em linha com Frege-Strawson e em oposição a Austin, Costa concorda com a correlação entre um pensamento e um fato e, nesse sentido, enfatiza o status ontológico do fato, pois é ele que é a referência do conteúdo empírico. Aqui dizemos: por mais que haja um sentido que é comunicado e entendido na teoria de Frege, o seu conteúdo só tem valor de verdade se corresponde a algo no mundo.

É a alusão que Costa faz a uma teoria correspondencial da verdade, ou seja, um conteúdo cognitivo, um pensamento verdadeiro se ancora em um fato empírico, que é uma situação ou estado de coisa cuja descrição começa com uma cláusula-que, conforme definição de Strawson. Por exemplo, o fato de que “o seu estado de saúde é bom” é algo que não muda enquanto dura e pode fazer o papel de fazedor-de-verdade do conteúdo cognitivo do enunciado.



[i] São temas que Costa trata lateralmente nos trechos que até então tivermos oportunidade de ler em sua obra Cognitivismo Semântico, mas que servem para deixarmos esses assuntos em pauta.

[ii] Lembremos que Costa é um neo-cognitivista.

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