domingo, 11 de dezembro de 2022

Referencialismo

Aborda a teoria referencialista do significado e mostra como ela mistura referência e significado[i]

Sagid atribui a Frege o ponto de partida das teorias através das quais o significado de uma expressão linguística se relaciona ao referente dessa expressão. Nesse sentido, misturam-se significado e referência. Porém, a teoria referencialista se divide em direta, isto é, a referência não é determinada pelo significado e indireta[ii], em que pelo menos parcialmente a referência é determinada pelo sentido / significado. Além disso, ambas as teses podem ser aplicadas globalmente, se universalmente válidas ou localmente, se limitadas a alguns casos.

Dito isso, tem-se que o referencialismo é uma teoria do significado em que o significado da expressão linguística é o referente da mesma. Sobre o problema descritivo da teoria referencialista do significado, temos que o significado é o referente, ou seja, o significado de "Aristóteles" é a própria pessoa. Sobre o problema fundacional da teoria referencialista do significado, temos que as expressões linguísticas significam o que significam em virtude de se referirem ao que se referem[iii]. E ela ainda implica na tese fundacional da teoria da referência direta[iv], na medida em que o referente não é determinado pelo significado.

Então, o referencialismo indica que o significado é o referente, mas não deixa claro, como podemos notar no caso da expressão “filósofos” que tanto pode ser uma propriedade como um conjunto. Mas é uma teoria intuitiva, já que o significado da expressão é o que a expressão seleciona. E ela também aborda de maneira razoável dois problemas do significado: a ambiguidade (quando uma expressão tem mais de um significado) e a sinonímia (quando duas ou mais expressões têm o mesmo significado). Para o primeiro, a ambiguidade se dá pelo fato de haver mais de um referente (como no caso do banco-instituição e banco-assento), para o segundo, a sinonímia se dá porque as expressões selecionam o mesmo indivíduo (Gil e ex-ministro da cultura).

Embora o referencialismo seja uma teoria intuitiva, tida como do senso comum, ela é em geral incorreta e já foi refutada pelos filósofos, basicamente por três objeções[v]. A primeira objeta que nem toda expressão linguística dotada de significado tem referente (ex., todavia, não, etc...). A segunda admite que, para o referencialismo, todas as expressões são tratadas como nomes e, por conseguinte, uma frase seria uma lista de nomes. Porém, um lista de nomes não têm significado, mesmo que sejam tipos de objetos diferentes, como nomes, propriedades e outros. Por fim, a terceira objeção mostra que algumas expressões referenciais com sentido não se referem a nada, como é o caso de “Papai Noel”, que não existe.

Mas, se o referencialismo não tem validade universal, pode ter abrangência local, como no caso dos nomes próprios, que são um subconjunto dos termos singulares. Assim, pela teoria referencialista do significado dos nomes próprios, o significado de um nome próprio é exclusivamente o referente desse nome (a pessoa). Donde que a função do nome na frase é introduzir o referente, essa a sua condição de verdade. A expressão “Aristóteles é sábio” é verdade se e somente se a pessoa Aristóteles pertence ao grupo dos sábios. Para esses casos, informa Sagid, é uma teoria bem aceita contemporaneamente, até mais do que a concorrente descritivista.



[i] Recortes da Aula 07 - Referência Direta, Indireta e Referencialismo, do professor Sagid Salles: https://www.youtube.com/watch?v=tKhXSNrWH0M&ab_channel=ThePhilosophersDAO - CURSO IF, Filosofia da linguagem.

[ii] Descritivista.

[iii] O referencialismo não diz exatamente como o significado é determinado, isso fica por conta da referência.

[iv] Isto é, o modo como o referente é determinado.

Um comentário:

  1. Crítica ao referencialismo: https://www.reflexoesdofilosofo.blog.br/2020/09/wittgenstein-e-teoria-da-figuracao.html

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