domingo, 11 de dezembro de 2022

A estratégia de Ian Hacking para a filosofia da linguagem

Trata outros aspectos da filosofia da linguagem que não as teorias do significado[i]

Hacking postula que uma filosofia da linguagem aplicada teria mais interesse do que as teorias puras do significado, isto é, aquelas que estudam o significado em si mesmo. Sua abordagem é a de examinar estudos de casos que influenciaram as teorias da linguagem, seja partindo da metafísica ou epistemologia, questões estas que são centrais da filosofia e não da linguística. Segundo Hacking, mesmo os pais da filosofia da linguagem, como Wittgenstein, Moore ou Austin, estavam tratando de problemas tradicionais de filosofia como ética, percepção e a natureza da mente humana.

Entretanto, apenas recentemente a filosofia da linguagem enveredou pelas teorias do significado, conforme Hacking: “Grande parte da teoria pura do significado que atualmente ocupa nossa geração irá muito rapidamente tornar-se autônoma, mas um corpo de questões essencialmente filosóficas sobre a linguagem permanecerá” (p 13)[ii]. Mas não interessam tanto à filosofia, insiste Hacking, como a linguagem interessa.

Para Hacking, há um interesse filosófico pela linguagem que vai além das dificuldades de expressão e comunicação, questões relativas à ambiguidade, equívocos e paradoxos e que, por ventura, seriam prevenidas por boas definições de termos e palavras (conforme proposto por Bacon) ou mesmo fazendo uma “limpeza” dos diversos usos de termos no discurso cotidiano, mas que acabaria por trazer novos termos e aumentar o problema.

Além disso, Hacking diz que seus estudos de caso devem ser simples em geral, embora sejam abordados filósofos recentes da linguagem[iii], como Davidson e Feyerabend que ainda têm uma obra fragmentada e de difícil acesso, embora discorra pouco sobre nomes importantes como Austin, Strawson (Indivíduos) ou Quine (Palavra e Objeto), nem tampouco sobre a filosofia linguística de Oxford.

Hacking foca na tradição anglo-americana, além da perspectiva histórica, já que a linguagem é discutida desde Platão (Eutifrone), pelos empiristas ingleses, que são familiares e mais fáceis, segundo ele. Nessa perspectiva, a ideia surge como conceito chave, mas que teve abordagens bem diferentes ao longo da história.



[i] HACKING, I. Por que a linguagem interessa à filosofia? São Paulo: Editora Unesp, 1999. 1. Estratégia.

[ii] Autônoma como ocorreu com a psicologia.

[iii] Metafísicos, segundo ele.

Nenhum comentário:

Postar um comentário