Sobre as bases físicas que mostram que as emissões antropogênicas de gases estufa contribuem para o aquecimento global[i]
Introdução.
Com a emergência da temática ambiental, nos interessa entender questões ligadas
às mudanças climáticas e ao aquecimento global. Para isso, requer voltarmos a
conceitos básicos outrora vistos para melhor compreensão desses fenômenos, ou
seja, suas bases físicas. A respeito do artigo, mais precisamente, os autores
enfocam o aquecimento global cuja causa dominante é a ação humana, de acordo
com a evolução das pesquisas científicas no último século e a despeito de
alegações em contrário[ii]. Então, o efeito estufa
tem papel preponderante na regulação da temperatura planetária.
O papel da composição atmosférica na temperatura
planetária. Os autores trazem o raciocínio de Fourier,
primeiro a tratar da temperatura planetária, de que a Terra, recebendo energia
constantemente do sol, deveria reemiti-la de volta pois, de outra forma,
superaqueceria e assim poderia manter uma temperatura de equilíbrio. A energia
solar atinge os planetas de seu sistema por ondas eletromagnéticas cujas
intensidades dependem da luminosidade do astro e da sua distância. Porém, boa
parte dessa energia não é absorvida pelo planeta[iii], já que uma parte é
refletida pela atmosfera e outra parte pela superfície. Ocorre que o
planeta recebe a luz solar em metade de sua superfície e a reflete por toda a
sua extensão (conceito conhecido por albedo[iv]). A figura abaixo ilustra
esse ponto.
Os itens elencados acima fazem com que a
temperatura de equilíbrio da Terra (-18º) seja bem menor do que a temperatura em
sua superfície, em torno de 15º. Comparando com outros planetas que têm as
temperaturas estimadas, podemos notar a diferença entre elas, conforme a tabela
que segue.
Se Mercúrio e Marte as têm próximas, isso
não ocorre com Terra e Vênus que as têm distintas exatamente por
conta da atmosfera de cada um. Se a atmosfera é substancial, isto é, espessa e
com gases estufa, ela absorve parte da radiação refletida e aumenta a
temperatura da atmosfera baixa, qual seja, da superfície e a isso dá-se o nome
de “efeito estufa”. Já a próxima tabela ilustra as tênues pressões atmosféricas
em Mercúrio e Marte que não geram as diferenças de temperatura bem como o
oposto para Terra e Vênus.
Vênus que, mais longe do sol do que
Mercúrio, ainda assim apresenta alta temperatura devido à junção da alta
pressão com alta presença do gás de efeito estufa dióxido de carbono, como
podemos ver a seguir.
Ainda conforme a tabela, embora Marte
também tenha alta presença de CO2, ele é pouco concentrado como se
pode ver pela sua pressão atmosférica, que faz com que o planeta não absorva
muita radiação infravermelha oriunda da superfície. A tabela também mostra a
distinta composição de gases que a Terra apresenta com relação aos vizinhos
Vênus e Marte (conforme figura dos planetas do sistema solar que se segue[v]) e, embora seja baixa a
concentração de dióxido de carbono, ele se junta a outros gases (vapor d’água,
metano e óxido nitroso) para compor o efeito estufa e aumentar a temperatura da
superfície em 30º acima da temperatura de equilíbrio.
Os autores também enfatizam que é a
própria vida na Terra, sua biosfera, que regula a composição química da
atmosfera pelos ciclos biogeoquímicos e, se a vida fosse extinta, rapidamente
teríamos uma composição similar a Vênus e Marte.
Detalhamento do efeito estufa da Terra. Embora
Fourier tenha afirmado que o calor encontra menos resistência ao entrar na
atmosfera em estado de luz do que ao sair como calor não luminoso, a base física
só foi evidenciada com o uso de um espectrofotômetro por Tyndall, em 1859, que mostrou
que dióxido de carbono e vapor d’água (CO2, H2O) poderiam
absorver radiação infravermelha, enquanto oxigênio, nitrogênio e hidrogênio não
(O2, N2, H2).
Contudo, só no século XX se clarificaram as
medidas e os gases de efeito estufa, nomeadamente: CO2, H2O, CH4 (metano),
N2O (óxido nitroso), CFCs e O3(ozônio) que
absorvem radiação infravermelha. Abaixo são mostrados os comprimentos de onda
com destaque para o espectro visível e também as ondas longas de infravermelho
na qual os gases estufa são ativos radioativamente.
Então, conforme já dito, o sol emite ondas
eletromagnéticas para nós numa radiação visível que não é absorvida por esses
gases (0,4 μm a 0,7 μm). Cerca de 70% dessa radiação visível entra na Terra
aquecendo-a, que então emite radiação infravermelha para o espaço que é
obstruída pelos gases estufa, esquentando a baixa atmosfera.
Acima o desenho esquemático do efeito
estufa, com destaque para a emissão de dióxido de carbono em todas as direções.
Outro ponto é que, quanto maior a temperatura de um corpo, menor o seu
comprimento de onda emitida e aí a Terra, bem menos quente que o sol, emitindo
na faixa do infravermelho em torno de 10 μm (isso será mostrado em outro gráfico mais a frente). Pois que, pelo estudo da
espectroscopia do infravermelho para o dióxido de carbono, é mostrado que ele
absorve radiação nos comprimentos de onda de e 4,2 μm e 15 μm, ou seja, ele é
opaco nesses pontos (e vai coincidir com o comprimento de onda da Terra, como se verá).
Os autores ainda trazem uma questão
extremamente técnica para esclarecer as bandas de absorção do CO2 e
sua interação com a radiação infravermelha. Sucede-se que a radiação
infravermelha incidente na molécula de CO2 possui frequência
compatível com a frequência de vibração do mesmo e este absorve radiação em uma
mudança do momento de dipolo, que ocorre quando a molécula vibra e interage com os
campos elétricos e magnéticos da radiação.
Acima é mostrado os modos normais de
vibração do CO2 com destaque para os momentos de absorção
v2 e v3, ao passo que o estado v1 é apolar
(simétrico). Trazendo o gráfico da emissão da radiação da Terra abaixo, vê-se a
atuação da banda de 15 μm (v2 acima) atuando na faixa de 10 μm, indicando a existência do efeito estufa.
O balanço energia da Terra: o efeito
estufa em ação. A despeito do comportamento do CO2,
etc., os autores ressaltam que o mecanismo principal da temperatura planetária
é o balanço de energia da Terra, qual seja, a manutenção da temperatura média
entre as intensidades de energia entrantes e saintes. De acordo com os
cientistas, um desequilíbrio que possa levar a mudança da temperatura média
ocorreria por três possiblidades ou forçantes climáticas: 1.) mudança
da radiação solar entrante, seja por mudança na intensidade da radiação
solar ou da órbita da Terra (que não tem acontecido, segundo observações), 2.) mudança
do albedo da Terra, pela mudança de cobertura das nuvens, partículas de
aerossóis e cobertura do solo (também não ocorre) e 3.) mudança da radiação
terrestre para o espaço, devido à alteração na concentração dos gases de
efeito estufa.
Não obstante, convém lembrar que a
temperatura de equilíbrio se dá a uma altitude média da atmosfera acima dos
gases estufa e, abaixo deles, há a temperatura da superfície que recebe a
reemissão da radiação para baixo e aí se aplicam modelos de medida da
transferência radioativa que não nos interessa detalhar agora, embora os
autores os tivessem simplificado em um
modelo de linha que abstrai as camadas da atmosfera e outros fatores como
correntes oceânicas, variações dos espectros de onda, transferência de energia
entre as camadas e distribuição dos gases.
De todo modo, desse modelo é possível estimar a temperatura da superfície a partir da temperatura de equilíbrio, chegando a um valor de ~303 K (-273 = 30º, acima dos 15º por conta da simplificação) e permitindo mostrar que a “radiação reemitida para baixo contribui para o aquecimento da superfície” (p. 16) e também que, em última instância, a radiação escapa a altas altitudes e o aumento dos gases de estufa irá aumentar a temperatura de superfície e sua diferença com relação à temperatura de equilíbrio, desequilibrando o balanço.
O aumento do efeito estufa e a busca do balanço
trazem aquecimento. Se o efeito estufa é um processo natural
e essencial para a vida na Terra, a mudança da composição química da atmosfera
pela concentração de gases de efeito estufa, sem dúvida, irá aumentar a
temperatura do planeta. Acontece que, se é mantida a radiação entrante e os
gases de efeito estufa dificultam a sua saída, há um desequilíbrio entre a
entrada e a saída de radiação. Nesse caso, a Terra precisa esquentar para
reequilibrar o fluxo de energia e, aí, atinge um novo estado de equilíbrio.
A figura acima ilustra a busca pelo
balanço de energia quando, em b), o aumento da concentração de dióxido de
carbono irá diminuir a temperatura de saída para 236K e, então, a Terra se aquece (3º)
para atingir o novo equilíbrio. Esse valor de incremento e sua rapidez de
aumento ainda são debate entre os cientistas, conforme enfatizam os autores.
Papel do CO2 no aquecimento
global. Se o vapor d’água contribui mais do que o CO2
entre os gases com efeito estufa (vapor d’água = 50%, nuvens = 25%, CO2
= 20% e demais gases 5%), o CO2, além de não condensável, apresenta
evidências de relação com as eras do gelo[vi] e é parte da história climática
da terra. Soma-se a isso que o nível atual de CO2 jamais foi
atingido no período observado (um pico de 300 contra 400 ppm atuais das emissões
humanas pós revolução industrial)[vii].
Já o vapor d’água é condensável e se
regula pela temperatura da atmosfera que vai comportar determinada quantidade,
o resto condensa-se. Assim sendo, ele não é considerado uma forçante climática e
se associa com o mecanismo de retroalimentação. Conclui-se que o CO2 é
o termostato da terra, já que a sua ausência atmosférica levaria
a um congelamento do planeta.
A contribuição de dióxido de carbono de origem humana é demonstrada pelas conhecidas anotações de Charles David Keelling, ilustradas abaixo.
Se aliarmos esse dado com as medições de temperatura ao longo dos anos (considerando incremento de 1º desde a revolução industrial) e com as
comprovações cientificas que descartam as outras forçantes climáticas, os autores
afirmam que:
“O IPCC (Painel
Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) criado em 1988 sob o comando da
Organização Meteorológica Mundial (WMO) em seus relatórios tem atestado com
níveis de confiança cada vez maiores que as evidências científicas são
suficientemente fortes para afirmar que o aquecimento observado tem como causa
dominante as emissões antropogênicas de gases estufa (Ipcc, 2013)”
Por fim, os autores sintetizam o argumento da
seguinte forma:
1. O efeito estufa é um fenômeno natural
essencial à vida na Terra.
2. O mecanismo do efeito estufa opera a
partir das moléculas dos gases estufa que absorvem a radiação infravermelha
emitida pela Terra, reemitindo uma parte de volta para a superfície terrestre.
3. As emissões humanas estão aumentando a
concentração de gases estufa na atmosfera.
4. Um aumento da concentração de gases
estufa na atmosfera intensifica o efeito estufa da Terra.
5. Um efeito estufa mais forte causa um
desequilíbrio no balanço de energia da Terra.
6. Para retornar ao equilíbrio energético
a Terra precisa esquentar tendo como resultado o aquecimento global.
[i] Conforme https://if.ufmt.br/eenci/artigos/Artigo_ID531/v13_n5_a2018.pdf:
Efeito Estufa e Aquecimento Global: Uma abordagem conceitual a partir da física
para Educação Básica. Simplificado, resumido, sem fórmulas 😊.
[ii] “Fatos alternativos” citados: 1.)
o planeta não está aquecendo, mas resfriando; 2.) estamos num ciclo natural;
3.) as emissões de dióxido de carbono não são um problema; 4.) o efeito estufa
não existe.
[iii] Energia absorvida = potência.
[iv] Conforme http://sigep.cprm.gov.br/glossario/verbete/albedo.htm,
albedo é a medida da quantidade de radiação solar refletida de um objeto ou
alvo com relação a quantidade de energia incidente. O albedo varia de 1
(reflexão total de corpo refletor perfeito) a 0 (absorção total de um corpo
negro), que são extremos teóricos inexistentes na natureza. O albedo da Terra
como um todo, incluindo as nuvens, é em torno de 0,4, ou seja, 60% da energia
solar incidente é retida no sistema Terra.
[vi] Conforme citação dos autores dos
estudos feitos na estação Vostok da Antártica.
[vii] Não só o dióxido de carbono, como
metano, óxido nitroso, ozônio e clorofluorcarbonetos apresentam aumentos expressivos de 1850 para cá, principalmente pela queima de combustíveis fosseis
como petróleo e carvão, desmatamento, agricultura e pastagens.
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