quinta-feira, 8 de outubro de 2020

Meu ego

Eu queria falar um pouco sobre o meu ego, que não é o ego do egoísta ou do ególatra. “Fulano de tal tem um ego grande.” O que, de fato, é isso? Não sabemos. O ego que nos referimos aqui é o eu, o polo unificador de nossas vivências. Mas, ele existe?

A gente, nós, cada um é uma pessoa e sua vida, sua história. Mas, o que a unifica? Como eu posso dizer que eu sou o mesmo que eu era 20 anos atrás? Isso seria possível por esse polo, pelo ego.

Entretanto, eu não posso acreditar no ego e nem a ele confiar e confinar minha vida. É mais ou menos que nem o rio de Heráclito, sabe? O rio que passa é o mesmo ou é outro?

Eu não acredito no ego porque eu não acredito que sou o mesmo. Embora eu tenha certas características, algumas qualidades e tantos defeitos, isso só me da uma unidade externa e que é passageira e extremamente mutante e volátil.

Essa unidade externa eu não reconheço. Se eu me olho no espelho agora, eu não reconheço o eu de 20 ou 30 anos atrás. Talvez nem mesmo o eu de 10 anos atrás. E pudera, se eu me reconhecesse eu não teria evoluído, ou involuído, eu seria o mesmo.

Internamente muito menos e exatamente por um motivo semelhante: porque eu sou sempre tocado por algo, influenciado por algo, educado ou deseducado. Na luta interno-externo jogo fora o interno e confio piamente, plenamente no externo.

“Facilmente influenciável”, diria um amigo. “Não”, respondo eu. Facilmente domesticado, facilmente revoltado, atarantado, humilhado, encanado, desgastado, iluminado, aliviado, detonado. Facilmente externamente ado. Nada internamente.

Internamente oco, você, eu, tudo, todos. Tudo volatilidade e luta. Tudo mesmice. Não importa, a força interna pouco pode. A humanidade se faz pelo todo, embora cada qual em seu canto virtual de pandemia. Acreditar em algo diferente é metafísica.

 

 

4 comentários:

  1. Ego que Husserl teimou e não jogou fora: https://www.reflexoesdofilosofo.blog.br/2015/10/a-fenomenologia-e-guinada-transcendental.html?m=1

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  2. E eu falando que não me unifico fui achar uma postagem de 5 anos atrás...

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  3. A gente é sujeito à e da nossa própria história.

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