É
difícil admitir, mas o mundo mudou. Há
um novo tempo e nele estamos iguais ou diferentes, embora perceber o
hoje possa diminuir nosso sofrimento. Simplesmente porque não há como resistir, ninguém
escapa. Tudo o que era de uma forma estável e equilibrada, agora balança. O natural,
o cotidiano se transformou e nos impacta. Esse novo tempo é Terra Dois. Em
Terra Dois os pontos de vista se equiparam e a relação vertical se horizontaliza.
A ética horizontal traz um novo tipo de responsabilidade e atua nas mais
diversas áreas. Os pontos fixos de Terra Um, pontos de referência, são explodidos
em Terra Dois e deles novos pontos aparecem espalhados, cindindo aqui e acolá,
iluminando, apagando, criando.
Terra
Dois não é melhor nem pior que Terra Um, mas as qualidades adquirem novo
aspecto. O que era garantido e planejado, agora é provisório e inesperado, mas
tanto lá como cá, deve ser construído e sedimentado. A dinâmica de Terra Dois é
a do múltiplo e o farol aponta para muitas direções. A observância cede terreno
para o questionamento e a imposição não se sustenta. O querer compete em pé de
igualdade com o dever e não há nada que não possa ser de outro jeito. O controle
espacial do tempo de Terra Um, segmentado, passa a ser um não controle
atemporal já que algo sempre pode acontecer. Porém, a ética de Terra Dois não é
superficial, é uma ética horizontal, não importando tanto a profundidade, mas a
abrangência e o alcance.
Mas
Terra Dois tem algo muito específico: seu aparato. O que salta aos olhos,
primeiramente, é a ruptura: de repente nos encontramos em Terra Dois. Não há um
fio que conduza de Terra Um a Terra Dois, Terra Dois é o agora a ser
enfrentado. Marca fundamental de Terra Dois, a ruptura é o aparato essencial
que permite abandonar Terra Um e relativizar Terra Dois. Um segundo ponto é o tecnológico.
Não parece haver Terra Dois sem o digital que dita seu ritmo e dimensão. É o tecnológico
que tudo conecta e Terra Dois é permanentemente conectada. O digital, por outro
lado, se destaca, se descola e se desloca do concreto e, em algum sentido, nos
remete ao mais remoto futurismo que, de supetão, está presente e nos abduz. O terceiro
aspecto de Terra Dois é a pós-modernidade. Terra Dois significa que houve (há)
Terra Um e por isso é o pós. Terra Dois substitui Terra Um, que ficou para
trás. As bases de Terra Um são de alguma maneira todas diametralmente
recortadas para que Terra Dois se apresente como horizonte.
Estando
em Terra Dois, precisamos nos conscientizar de seu aparato e sua ética. E urge
transportar tais aspectos para o econômico e o social. A universalidade de
Terra Dois de algum modo tem que ser aplicada a certa coletividade que a teste
e reproduza. A rede que Terra Dois proporciona deve ser capaz de abarcar o recôndito
mais irracional e subjugado, de outro modo não será Terra Dois, mas Terra Meio,
um pedaço de terra que descolou de Terra Um. Será a jangada de pedra de Saramago,
que veleja pelo mar.
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