Quer se desenvolver as capacidades dos
surdos, mas há dificuldades e limitações**.
Até Aristóteles
considerava que só se podia aprender pelo discurso. Na antiguidade, os surdos não
tinham direitos legais e, mais tarde, sua alma não era considerada imortal pela
igreja. Santo Agostinho diria que a falta de ouvido impede a entrada da fé. Tratados de imbecis na idade média, a partir do
século XVI tenta-se ensinar a fala para a garantia de direitos (porém restrito a
preceptores contratados por famílias abastadas) e se ganha força
a ideia de que o surdo pode ser capaz de tomar suas próprias decisões.
Mas, é no
século XVIII que a comunicação dos surdos se divide entre oralista e gestualista.
Na França, De L'Epée valoriza a
gestualidade e cria uma escola para ensino do método visual que possibilitaria
ao surdo obter conhecimento, ler e escrever, permitindo o
crescimento dos surdos nas esferas sociais, defendendo a comunicação entre eles e possibilitando o conhecimento
da cultura. Já o método alemão fundado
por Heinicke se baseava na oralidade pretendendo que os surdos agissem como pessoas
normais e falassem, assegurando que só a oralidade propiciava o pensamento. O oralismo termina por se
espalhar pela Europa e no Congresso de Milão,
em 1880, ele triunfa como caminho para socialização dos surdos e o método
visual é praticamente banido.
A polaridade do método chega aos
EUA com Clerc, defensor da língua de sinais, que via a surdez como "diferença" tratada pelo modelo social com cultura de aceitação (modelo bilíngue) e Graham
Bell, defensor do oralismo, que via a surdez como "desvio" tratado pelo modelo
médico num quadro de incapacidade física (modelo monolíngue). Mas, o oralismo vigora sem muitos avanços e com muitas dificuldades
na educação dos surdos até a década de 1950 quando surgem as próteses que acenavam com a possibilidade de permitir que os surdos ouvissem e falassem.
A língua de sinais ganha força a
partir dos anos 60 nos EUA como língua natural capaz de permitir a
comunicação total, o desenvolvimento social e o acesso das pessoas
surdas. Mas, com o avanço tecnológico, volta-se a defender o oralismo e
instrumentos que permitam a comunicação. Entretanto, críticas
vêm dos EUA mostrando que o ensino oral é descontextualizado de situações
naturais de comunicação e que a leitura labial é impossível para crianças
pequenas. O método gestual se mantém a margem até ressurgir nos EUA, na década de 70, assemelhando a comunicação visual com a falada, a partir do estudo da Língua de
Sinais Americana: fonemas produzem palavras e queremas produzem sinais.
A proposta de comunicação total que aparece nos anos 60 visa usar todos os mecanismos de comunicação, deixando a
opção livre para os surdos. Porém, ao não privilegiar os sinais, eles não são
vistos como linguagem, mas apenas um acessório, embora permitindo o acesso aos
sinais pelos surdos. Paralelamente, ganha força a educação bilíngue que
considera a linguagem de sinais oficial e natural dos surdos e a linguagem oral
em segundo plano***. Ela permite o
desenvolvimento da criança pela linguagem de sinais e futura comunicação com os
ouvintes. Porém, mesmo nos EUA que possuem a língua de sinais mais avançada e
estudada, ainda prevalece o modelo de comunicação total. No Brasil e demais
países, as experiências com educação bilíngue são restritas, aqui tendendo a
diminuir o oralismo e crescer a comunicação total que permitiu a entrada dos
sinais em sala de aula. Do que se conclui que o bilinguismo, o oralismo e a
comunicação total ainda coexistem em diversos países. No
Brasil, embora a primeira escola de surdos-mudos tenha sido fundada em 1850, a
comunicação entre surdos pela linguagem dos sinais só se torna lei depois dos
anos 2000 e, então, passa a ser ensinada a Libras que pode propiciar a difusão
da importância dos estudos surdos e de Libras.
Libras: língua natural utilizada
nos centros urbanos e reconhecida por lei.
______
* Do texto: “Um pouco da história
das diferentes abordagens na educação dos Surdos”. Cristina B.F. de Lacerda. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S0101-32621998000300007
(+) Primeira aula de Libras EAD, Prof. Responsável: Felipe Venâncio Barbosa.
** Se os surdos sempre existiram e até pouco tempo eram considerados surdos-mudos por incapacidade de falar, na verdade podem falar se submetidos a técnicas.
*** A língua do grupo ouvinte majoritário.
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